Para um alemão o Brasil é um país fascinante, mas também difícil. Fascinante em termos de cultura, de sua gente e da natureza. Difícil devido à falta de confiabilidade e de segurança. Tudo o que hoje é válido amanhã já pode ser completamente diferente. Mesmo para os alemães mais abertos isso é difícil de suportar, e ainda mais difícil de entender.
Essa oposição também se reflete em questões ambientais. Por um lado, a natureza brasileira é tão rica, diversificada e abundante que mesmo espaços naturais de grande valor ecológico na Alemanha, comparados a ela, dão a impressão de paisagens lunares. Por outro lado, a relação dos brasileiros com essa riqueza pode ser caracterizada como uma história de 500 anos de apropriação da natureza. A natureza sempre esteve presente em abundância, era uma ameaça. Tinha de tornar-se útil. Onde há todo um continente à disposição, não há necessidade de se proteger.
O conceito de espaço público, de uma paisagem ou de um parque à disposição de todos igualitariamente é uma ideia que está aos poucos crescendo em popularidade no Brasil, mas que não é verdadeiramente enraizada. Dessa forma, ainda hoje a natureza continua sendo em larga medida objeto de "apropriação": os pobres ocupam terras "sem dono" e levantam favelas; os ricos constroem suas casas de veraneio sem licença em reservas protegidas; gigantescos projetos de represas são implementados em espaços naturais únicos, sacrificando não apenas a fauna e a flora, mas também as culturas indígenas; o poderoso setor agrário apropria-se das terras, e isso não somente na Amazônia.
Criticar a exploração da natureza no Brasil é algo tão indispensável quanto perigoso. De fora - como alemães - pisamos rapidamente em terreno escorregadio. Um pequeno país europeu que ao longo de sua história já transformou sua natureza selvagem por completo em paisagem cultivada e que, além disso, é um dos maiores consumidores dos produtos de baixo custo fabricados no Brasil - esse não é um crítico com grande credibilidade. Que fazer, então?
Talvez tentar dar expressão ao descontentamento comum com relação a um modelo econômico e de vida que vê a natureza exclusivamente como provedora de recursos e que, tanto no Brasil como na Alemanha, acaba gerando essencialmente perdedores. O Goethe-Institut tentou estimular o diálogo sobre essa questão através do ciclo de filmes "Clima. Cultura. Mudança". Os filmes do ciclo foram apresentados pelo Goethe-Institut Porto Alegre em setembro de 2013 em diversas sessões de grande sucesso. Em vários debates com o público ficou claro que não estão mais em foco as oposições entre nações, e sim o fato de que soluções internacionais comuns devem ser procuradas e colocadas em prática. Enfim, a questão é uma nova cultura de relação com a natureza. E essa cultura ainda está engatinhando, tanto no Brasil como na Alemanha.