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Encontro na Conferência de Museus Ira Barillo © Goethe-Institut

Como um museu pode ser para todos?

A pergunta que norteou os debates da Conferência de Museus trouxe reflexões a partir da realidade de instituições das mais diferentes realidades da Europa e da América do Sul

Qual o desafio para tornar os Museus espaços mais inclusivos? A pergunta foi a tônica dos principais debates entre especialistas da América do Sul e da Alemanha que se reuniram no Rio de Janeiro durante a Conferência de Museus, uma iniciativa do Goethe-Institut e do Museu Nacional, com apoio do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha. Num formato inovador, onde prevaleceu a troca de experiências e a diversidade de opiniões, o encontro trouxe à tona debates sobre qual o papel dos museus na atualidade, e ao fim dos trabalhos, a certeza da necessidade de formação de redes assimétricas de apoio para o fortalecimento das instituições. 

Durante os debates, o desafio da acessibilidade se mostrou uma questão importante para todas as instituições, independente do perfil, de sua representatividade ou do poderio financeiro. O primeiro workshop proposto estimulava os presentes e o público virtual a se reunirem em grupos para discutir propostas para aproximar os museus de seus públicos. Os debates foram intensos com opiniões convergentes e divergentes, que tornaram evidente para todos o quão é urgente a revisão de conceitos. Para o representante do Museu Natural de Berlim, Christoph Häuser, por exemplo, é preciso reforçar que museus não são só quatro paredes e um acervo. “Precisamos pensar em instituições além dos edifícios. Tem que ter uma existência além dos prédios e assim se aproximar da sociedade.”

Em outro momento, os organizadores propuseram um exercício chamado Fishbowl, onde, numa espécie de aquário, as pessoas eram chamadas a expor ideias e argumentos. Para iniciar, quatro convidados abriram o bate-papo a partir do seguinte questionamento: que soluções podemos criar juntos e nutrir em rede para moldar o futuro que queremos para os museus? Primeiro a colocar suas ideias, o espanhol Pablo Del Fuentes, co-diretor artístico do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, falou das relações que podem acontecer sejam de afeto, de dependência, e levantou os seguintes questionamentos aos participantes. “O que é uma instituição autônoma? É possível se relacionar e criar relações com diferentes escalas, seja de espaço ou financeira? Como se dá a negociação? Como se decide qual vai ser a metodologia?”.  

Para a artesã Elvira Espejo Ayca, Diretora do Museu de La Paz, Bolívia, existem muitos pensamentos na realidade das sociedades. “A relação que devemos pensar se inicia no respeito humano entre as partes, entre os diferentes”. Para o camaronês Bonaventure Ndikung, diretor do SAVVY Contemporary, em Berlin, há questões primordiais para entender, como, por exemplo, o que é um museu? A quem pertence um Museu? Como podemos entender o museu como o corpo? “Responder essas perguntas pode facilitar quando pensamos em relações entre as instituições. Por exemplo, quando o brasilerio Abdias do Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro, entidade que rompeu a barreira racial no teatro brasileiro, ele lutava pelos direitos civis e humanos dos negros à recuperação e valorização da herança cultural africana.”

No último exercício proposto, os presentes foram estimulados a pensar que conversas precisamos ter para cooperar em rede na criação do futuro que queremos para os museus. Mona Nascimento, da Rede de Educadores do Brasil, e Alfredo Tolmasquim, do Museu de Astronomia, foram alguns dos que abriram frentes de conversa. A primeira sugeriu discutir “Criação e Manutenção de organismos em Rede”, e o segundo colocou a questão de “O Museu como espaço de ação e transformação social”. Ao fim dos trabalhos, Mona resumiu os dois dias intensos de atividades na conferência: “Num lugar tão rico como esse, a gente absorve o máximo de coisas possíveis. Temos que deixar assentar as ideias e, ao fim do processo, vai ficar o que for importante”.

A conferência foi, também, uma oportunidade para o grupo de trabalho que nos últimos dois anos reuniu especialistas de museus da América do Sul e da Europa em torno da reconstrução do Museu Nacional, destruído num incêndio em 2018, apresentar os primeiros resultados de seus encontros. “Normalmente esse tipo de evento é um lugar de lamentação. Nós trouxemos para uma agenda positiva. Fizemos do limão uma limonada. Essa conferência nos oportuniza a que todos participem desse momento de reconstrução.”, vibrava Alexandre Kellner, diretor do Museu Nacional, ao fim dos trabalhos.

Programação
A Conferência de Museus, Rio de Janeiro - 2022 foi idealizada numa estrutura diversificada e participativa, para que o debate possibilitasse trocas de experiências, saindo dos tradicionais discursos de mão única e propondo diferentes dinâmicas que promovam o diálogo. O programa preliminar teve como uma das atrações uma visita ao Museu Nacional/UFRJ onde um grupo de participantes conheceu a infraestrutura da instituição: Palácio, jardins, biblioteca, jardim botânico e novo campus de pesquisa e ensino. 

Nos dias 3 e 4 de junho, os trabalhos ficaram centralizados nas dependências do MAR (Museu de Arte do Rio) e na plataforma Zoom. Ao longo dos dias de atividades, os resultados dos diversos workshops e encontros realizados nos últimos dois anos entre representantes do Museu Nacional e especialistas da Europa, em especial alemães, e da América do Sul, como argentinos e colombianos, entre outros, nortearam os temas a serem tratados na Conferência, divididos em três áreas temáticas. A linha focada na questão dos Museus e Sociedade trouxe para o debate a diversidade de narrativas, a importância da representação de práticas culturais até então invisíveis, estratégias para atrair audiências, programas de divulgação, acessibilidade/inclusão. 

Coleções e Arquivos fizeram parte da segunda área temática com destaque na criação e manutenção de coleções, conceitos estabelecidos e novos conceitos para arquivos e, principalmente, o novo momento de digitalização de acervos, processo que vinha sendo realizado e que ganha maior destaque a partir da pandemia de Covid-19, quando museus do mundo todo foram obrigados a fechar as portas.
Questões ligadas à Comunicação e estruturas sustentáveis completaram parte da pauta da terceira área temática. Entre os assuntos propostos para discussão, estão a criação de redes internacionais e estruturas sustentáveis como a visibilidade na mídia e redes de políticas culturais, lobby em nível nacional e internacional, intercâmbio com tomadores de decisão, sustentabilidade estrutural e financeira dos museus.

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