O que simboliza para você a situação atual em nível pessoal ou em seu país?
A situação de crise que emergiu é um novo objeto de pesquisa e um estudo de caso em gerenciamento de crise. Também é um estudo de caso para a psicologia humana em situações de emergência, quando muitos são lançados involuntariamente para fora de suas respectivas zonas de conforto. No Cazaquistão, esse é um novo desafio para o governo e a sociedade e, como um tipo de indicador, essa crise revelou muitos problemas.
A economia digital falhou particularmente, pois a internet não suportou a carga depois que o país tentou introduzir o ensino à distância para crianças em idade escolar. Além disso, há uma crise de confiança no que diz respeito ao que as autoridades fazem e dizem. Como resultado, os cidadãos cazaques começaram a suspeitar que a introdução de uma quarentena severa está ligada ao objetivo político de reduzir o número de protestos no país. No entanto, sem confiança é difícil alinhar uma ação conjunta que possa eliminar ameaças.
Como a pandemia vai mudar o mundo? Quais são, na sua opinião, as consequências da crise em longo prazo?
A pandemia do coronavírus, aliada a uma queda sensível nos preços do petróleo, vai criar sérios problemas socioeconômicos no Cazaquistão. A quarentena atinge pequenos e médios estabelecimentos, que tiveram que interromper suas atividades. Além disso, há certa de 1,5 milhão de trabalhadores autônomos que foram os primeiros a ficar sem trabalho. Quando o preço do petróleo cai abaixo de 45 dólares por barril, as receitas governamentais provenientes de sua exportação, e da exportação de gás natural, sofrem uma redução expressiva, e os setores de óleo e gás representam quase 50% do orçamento do Estado.
Esse provérbio me dá esperança: “o que não mata, fortalece”. De fato, qualquer crise é uma nova experiência e uma lição da qual devemos extrair as conclusões corretas. Em tempos anteriores, a globalização era percebida como um mercado global de consumo, mas subitamente a pandemia do coronavírus mostrou a muita gente que a globalização também significa ameaças e responsabilidades comuns a todos.
O coronavirus fez o que, por exemplo, alertas recorrentes sobre a mudança climática não conseguiram. O vírus nos mostrou que estamos todos no mesmo barco, e podemos nos tornar vítimas da mesma tempestade, independentemente da nacionalidade, da riqueza social e do desenvolvimento econômico de cada país. Esperamos que, após a pandemia, a consciência das pessoas mude em direção a uma maior responsabilidade. Além disso, autoridades de muitos países perceberão que é perigoso economizar em saúde pública, já que nem militares, nem bancos nem negócios privados estarão na linha de frente da guerra contra doenças. Governos também não deveriam economizar em educação, porque em situações de crise é a ignorância que provoca a disseminação de doenças e de informações falsas. A economia digital também precisa ser apoiada. Também é uma tolice economizar em pesquisa científica, pois apenas a ciência pode identificar futuras ameaças e propor medidas preventivas que as evitem, embora muitos políticos as ignorem frequentemente.