Ierevan
Ani Qananyan und Ed Tadevossian, artistas
Por Ani Qananyan e Ed Tadevossian

“Como toda ferida profunda, esta também deixará uma cicatriz na tez da evolução humana.”
Isolada em um abrigo improvisado como num moinho de vento solitário, uma pessoa transforma fluxos de informações digitais em hashtags. Não há mais informações absolutamente puras, toda mensagem, todo aviso, todo pedido é uma tradução, territorialização, adaptação à própria realidade.
Dados são extraídos diretamente da fonte pelos responsáveis em cada país, elementos locais são adicionados, abreviados e alterados de acordo com a censura - o produto final é algo completamente novo. Desse modo, ao transmitir informações de agentes públicos, qualquer pessoa acrescenta sua percepção emocional, subjetiva e o resultado é uma massa caótica, decorada com hashtags sugestivas.
Depois de cada crise, seja uma guerra, um desastre natural ou uma pandemia do lado de fora da janela, chega o momento de "limpar os escombros". Nossa estratégia para lidar com isso é o trabalho manual. #stayinghome é o nosso abrigo, estamos examinando nosso espaço, a nova realidade tornando conhecidas todas as superfícies deste território familiar, pegando coisas que antes estavam por aí, pesquisando arquivos digitais e analógicos, classificando obras antigas, planejando novos trabalhos em um mundo relativamente novo. E, sim, à noite, acendemos a lareira ou fazemos pipoca e assistimos a um filme.
Como toda ferida profunda, isso também deixará uma cicatriz na tez da evolução humana, todavia, depois de duas gerações existirão contos de fadas a esse respeito. O corpo humano desenvolverá imunidade, os virologistas surgirão com uma pílula mágica. O conteúdo dos kits de primeiros socorros será alterado. As pessoas não vão parar de fazer aquilo a que estão acostumadas. Alguns anos de inconveniência econômica e tudo voltará ao normal - um novo normal. O mundo não se transformará em nenhum dos cenários pós-apocalípticos que conhecemos de livros e filmes. É possível que haja mais controle sobre nossos movimentos, mas, afinal, o Big Brother já estava acompanhando tudo, não estava?




O mundo nunca esteve tão unido na procura da solução para um problema. Estamos monitorando o progresso da situação e as decisões tomadas por cada país em tempo real. Não importa como e de onde veio o vírus, quanto tempo e recursos serão necessários para encontrar uma vacina, cada pessoa hoje trabalha para garantir que seu vizinho em autoisolamento esteja um pouco mais seguro.
E, claro, o senso de humor. Não importa quão descontrolada ou super controlada esteja a situação, existem pessoas criando imagens de Van Gogh com a máscara que usam.