Blog da Berlinale: Opinião Mulheres fortes – uma “outra” Berlinale?
Na mídia circulou que a Berlinale de 2019 teria sido um “festival das mulheres”. Mas a força da perspectiva feminina deste ano já conduziu de fato a alguma mudança na frente ou por trás dos bastidores?
Sarah Ward – Austrália: Os esforços da Berlinale em defender as mulheres precisam representar o início de uma meta contínua. Se é de fato fantástico testemunhar tanta atenção dada a Charlotte Rampling (através do Urso de Ouro Honorário), Juliette Binoche (como presidente do júri) e Lone Scherfig (diretora do filme de abertura do festival), talvez a importância maior esteja, contudo, em apoiar as mulheres que ainda não obtiveram sucesso na indústria do cinema. A seleção dos filmes a serem exibidos em um festival pode fazer uma enorme diferença. Um terço dos títulos da mostra competitiva era dirigido por mulheres, um percentual que precisa crescer ainda mais.
Egor Moskvitin – Rússia: INão acredito na existência de “filmes de homens” e “filmes de mulheres” – por sorte vivemos em um mundo no qual Kathryn Bigelow pôde rodar Zero Dark Thirty e Pedro Almodóvar, Tudo sobre minha mãe. Gosto do que foi dito na cerimônia de encerramento do Festival de Sundance: “A dramaturgia masculina é parecida com o orgasmo do homem: ela está calcada em uma abertura, no desenvolvimento e no ápice. Em uma dramaturgia criada por uma mulher, há um clímax atrás do outro e isso até o infinito (a palavra clímax referindo-se aqui tanto ao orgasmo feminino como também ao ponto alto dramatúrgico da história)”. Diga-se de passagem: no cinema russo, as diretoras são mais ativas que seus colegas homens, de forma que, já no ano de 2014, um total de 70% dos filmes exibidos em nosso grande festival de cinema independente foram realizados por mulheres. Mas os júris das seleções dos festivais internacionais sempre preferem convidar os diretores russos – com raras exceções, como as de Natalia Merkulova (The Man Who Surprised Everyone) e Natalia Meshchaninova (Core of the World). Espero que um dia essa desigualdade acabe.
Alva Gehrmann - Noruega: A segurança e a conduta crítica dela frente à hegemonia masculina nos filmes ainda continuam deixando um ou outro inseguros. Na entrevista coletiva à imprensa, após a exibição de Elisa & Marcela, longa baseado na história real de amor entre duas mulheres, um jornalista salientou que, no filme, os homens não desempenham nenhum papel glorioso. A diretora espanhola Isabel Coixet tranquilizou-o, dizendo que gosta em geral dos homens. E apontou seu companheiro de vida sentado na plateia.
Foto (Ausschnitt): Vangelis Patsialos
Gerasimos Bekas - Grécia: Não necessariamente. De um lado, filmes de diretoras recebem muito mais atenção, sobretudo porque hoje em dia a ausência feminina é malvista. Por outro lado, também os filmes da Berlinale são permeados por fantasias masculinas de violência contra as mulheres. Nas entrevistas coletivas para a imprensa, as mulheres são raramente algo além de um adendo decorativo. O patriarcado é resistente. Ainda vai demorar um bom tempo até que tudo mude de fato.
Foto (Ausschnitt): Privat
Noha Abdelrassoul - Egito: Para mim, a perspectiva feminina esteve sobretudo presente no filme Flesh Out, que deixa claro que a mulher não deve adaptar seu corpo às exigências dos homens e da sociedade.
Jutta Brendemühl - Canadá: Vi bons filmes dirigidos por mulheres, como por exemplo o austríaco Der Boden unter den Füßen (O chão sob os pés, de Marie Kreutzer), mas também alguns decepcionantes, como o longa de abertura The Kindness Of Strangers, de Lone Scherfig. Vi bons filmes dirigidos por homens, como por exemplo o canadense Ghost Town Anthology, de Denis Côté, mas também alguns decepcionantes, como All My Loving, de Edward Berger. Histórias bem contadas, humanismo e humor não dependem de gênero, mas é importante que as mulheres ativas na indústria do cinema estejam claramente presentes nos festivais, obtendo sucesso ou fracassando da mesma forma que seus colegas homens. Ouvi por acaso como um crítico britânico resumiu sua mais recente experiência de entrevista: “As diretoras normalmente não têm um ego tão inflado quanto os homens, e isso traz um frescor muito grande”. Talvez estejamos testemunhando primeiro como a cultura do cinema está mudando em geral, antes de vermos essas mudanças na tela.
Andrea D'Addio - Itália: Nos filmes exibidos em si não pude observar neste ano qualquer perspectiva nova sobre o papel da mulher. Mas é bom ver que as mulheres estão ocupando cada vez mais posições importantes no cinema em geral.