Reinventando SMETAK
Salvador

Entrevista Christian Fausch

Christian Fausch © ©Christian Fausch  Christian Fausch ©Christian Fausch
“Pedimos que os compositores entrassem no cosmos de Smetak”
 
O primeiro contato dos compositores com o trabalho de Smetak aconteceu por meio de fotografias e gravações. Mas foi a residência artística que eles vivenciaram em Salvador o que permitiu que adentrassem no universo smetakiano e dali criassem algo novo, com identidade própria, explica o gestor artístico e geral do Ensemble Modern, Christian Fausch. A ideia deste concerto, portanto, baseia-se na interpretação de cada um, após estudos e experimentações com as Plásticas Sonoras. Para Fausch, este projeto reafirma a importância de Smetak no Brasil, onde a sua influência já é sólida, mas também reapresenta sua arte e pensamento na Europa, a primeira casa de Smetak, daí a ideia de “reinvenção”.
 
Como aconteceu a seleção para os participantes deste projeto?
Os compositores foram escolhidos pelos parceiros, Ensemble Modern e DAAD. Dois deles (Arthur Kampela e Liza Lim) tinham sido integrantes do programa Artistas em Berlim, do DAAD, em anos anteriores. O principal critério de escolha foi a convicção de que eles tinham uma forte relação com o Brasil e que estavam dispostos e eram capazes de entrar profundamente no universo de Smetak. Além disso, nós buscamos quatro diferentes personalidades para apresentar um retrato amplo da composição contemporânea.
 
O Ensemble Modern deu algum direcionamento específico aos compositores ou eles criaram livremente?
Os compositores realizaram pesquisas sobre Walter Smetak, individualmente e em grupo, com alguns dos músicos do Ensemble Modern. A especificação da comissão foi se envolver no cosmos de Smetak e incluir aspectos do trabalho, do pensamento e das vivências dele, que fossem de interesse individual dos compositores. Nós pedimos que escrevessem uma nova peça e que interpretassem o que era, para cada um deles, esse cosmos de Walter Smetak.
 
Como foi feita a escolha dos instrumentos?
Os compositores estudaram os instrumentos em fotografias e arquivos sonoros. Em meados de 2016, Daniel Moreira, Arthur Kampela e Liza Lim passaram alguns dias no Solar Ferrão, em Salvador, parte desse tempo junto com alguns músicos do Ensemble Modern, experimentando os instrumentos, em residência no Goethe-Institut Salvador-Bahia. Depois disso, as Plásticas Sonoras foram escolhidas de comum acordo. O público verá neste concerto dois instrumentos originais, a Vina e o Chori Sol e Lua. Há também as réplicas de Ronda I, Ronda II e Três Sóis e outros instrumentos que são inspirados na produção smetakiana, como os boréis, o Piston Cretino e os arcos.
 
Como foi decidido o que seria original e o que seria réplica neste concerto?
Foi algo que dependeu mais da necessidade dos compositores e da complexidade de replicar esses instrumentos: as Rondas, o Três Sóis, os boréis, o Piston Cretino e os arcos são parte das composições. Os dois instrumentos originais serão ouvidos apenas na peça de Arthur Kampela.
 
O que significa para o Ensemble Modern trabalhar com o universo de Smetak?
É um universo fascinante, rico e colorido, e é altamente interessante ouvir, ver e experimentar o que Smetak fez, combinando o seu passado na Suíça e toda a bagagem que ele adquiriu em sua nova casa. A influência do seu trabalho para a música no Brasil é imensa. Mas, ao mesmo tempo, ele é apenas pouco conhecido na Europa. É uma experiência inspiradora e desafiadora tentar chegar o mais perto possível do que Smetak realmente foi. Mas o que ou quem ele foi de verdade? Pelo que percebo neste projeto, Smetak tem um forte e diferente significado para cada uma das pessoas.
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