Linguística cognitiva
O significado da gramática

As formas da gramática também têm significados.
As formas da gramática também têm significados. | Fotografia (recorte): © Marco2811 - Fotolia.com

A linguística e a gramática cognitiva vêm sendo desenvolvidas há três décadas, visando à grande utilidade para a aula de línguas. É possível falar de uma verdadeira mudança de paradigma: sair do foco na forma e na estrutura e ir para as construções nos cérebros dos estudantes.

Abordagens linguístico-cognitivas partem do princípio de que a gramática e o vocabulário formam uma continuidade de unidades simbólicas que abrange respectivamente um polo fonológico/ortográfico (ou seja, a parte da forma) e um polo semântico (ou seja, o lado do significado e da função). O motivo para isso é que não só o vocabulário, mas também as formas da gramática têm significados. Entretanto, as transições entre forma e significado são fluidas. Assim, é possível encontrar, por um lado expressões idiomáticas, como “Mit Leib und Seele Deutschlehrerin sein” (ser professora de alemão de corpo e alma), que simbolicamente são muito complexas, mas têm um significado bem específico. Por outro lado, por exemplo, a preposição “zu” é simbolicamente simples nas frases no infinitivo, porém possui um significado altamente abstrato, por exemplo, em “Es ist gar nicht so schwer, sich sowas vorzustellen” (Não é nada difícil imaginar uma coisa assim). No entanto, ao falar, a maioria das pessoas não nota que a estrutura conceitual da língua desempenha um papel tão importante na comunicação quanto o do conteúdo conceitual, porque, geralmente, elas estão focadas no conteúdo. Por este motivo, parece ser tão urgente transmitir a gramática como uma estrutura básica válida da língua que, em princípio, não pode ser diferenciada do léxico.

A didática cognitiva da linguagem
 

O modelo da didática cognitiva estabelece quatro níveis: primeiramente o plano da linguística cognitiva, em segundo o plano da diferença de transferência, em terceiro o plano da metáfora gramatical e, quarto, o plano da apresentação e transmissão.


 O modelo da didática cognitiva O modelo da didática cognitiva | Ilustração: © Jörg Roche/Ferran Suñer Muñoz 2014 A linguística cognitiva parte do princípio (plano 1) de que as experiências reais do mundo são ilustradas de modo simbólico na língua e na gramática. Neste caso, a classificação de experiências e da língua é feita em domínios, que representam o esqueleto conceitual para a estruturação de conteúdos, a saber, movimento, espaço, gravitação, força, resistência e outros. Experiências baseadas na parte física, como em cima, do lado, em baixo, quente, frio, existem em todos os idiomas deste mundo. No entanto, esse esquema figurativo é usado de forma diferente conforme a língua. Por exemplo, em alemão se fala “im Regen” (na chuva), em espanhol e francês “unter dem Regen” (bajo la lluvia; sous la pluie). Nessas línguas, os fenômenos climáticos são uma grandeza sobre nós e, portanto, conceitualizados de acordo com o esquema figurativo de em cima-embaixo; em alemão e inglês, por sua vez, são considerados como recipientes.


Conceitualização da chuva em espanhol, francês e russo Conceitualização da chuva em espanhol, francês e russo | Ilustração (extrato): © Jörg Roche 2017 A didática cognitiva da língua descreve essas diferentes conceitualizações do mundo como a tarefa genuína de transmissão da aula (Diferença de transferência, 2º plano). A transparência é alcançada, entre outros, com representações figurativas que os alunos já conhecem, as chamadas metáforas gramaticas, que são representadas, por exemplo, pelos tipos de esportes (3º plano). O 4º plano do modelo trata da transmissão medial da língua, por exemplo, a utilização de animações para explicar os verbos modais.  

Metáforas gramaticais em animações
 

As animações são muito úteis para a visualização e servem para fazer com que a gramática seja entendida, explicada e entendida, e para incentivar o desenvolvimento da capacidade conceitual dos alunos. As animações de áreas do esporte parecem ser muito adequadas para isso, porque os tipos de esportes são internacionalmente conhecidos e praticados, têm boa imagem e grande potencial de motivação, porque são fáceis de serem colocados em prática e, basicamente, empregam os mesmos princípios de percepção e esquematização do mundo como a língua.

Além disso, as animações de gramática podem ser associadas de modo eficiente com os princípios da didática de atuação e da pedagogia de Dança e Teatro. Como as animações utilizam o recurso de experiências, elas podem ser facilmente imitadas por meio de movimentos, gestos, etc. Nos verbos modais, isso pode ser visualizado com o esquema figurativo do obstáculo, representado aqui por meio de uma barreira, que é movimentada por uma força/autoridade externa (policial).

 
  • Nova apresentação de uma animação simples do caso gramatical respectivo com ajuda de uma metáfora gramatical Ilustração (extrato): © Katsiaryna Kanaplianik (EL-Bouz) 2016
    Nova apresentação de uma animação simples do caso gramatical respectivo com ajuda de uma metáfora gramatical
  • Repetição com suporte de símbolos gráficos, como setas, reforços e ampliações, e alguns termos simples Ilustração (extrato): © Katsiaryna Kanaplianik (EL-Bouz) 2016
    Repetição com suporte de símbolos gráficos, como setas, reforços e ampliações, e alguns termos simples
  • )) Segunda repetição em câmera lenta, apoiada por explicações simples (metalinguísticas) Ilustração (extrato): © Katsiaryna Kanaplianik (EL-Bouz) 2016
    )) Segunda repetição em câmera lenta, apoiada por explicações simples (metalinguísticas)

Meta de aprendizado: competência conceitual

Neste plano de fundo, prevalece, de modo cada vez maior, a constatação de que o domínio bem-sucedido da língua não é limitado apenas ao conhecimento sobre as propriedades formais de um idioma e seus significados denotativos, mas que também abrange o contato associado à cultura, com as correspondentes verbalizações conceiptuais das experiências. Portanto, a aquisição de tal competência conceitual pode ser considerada seguramente como o objetivo primário do ensino de línguas. Porém, isto exige que os alunos se confrontem ativamente com as diferenças conceituais, ou seja, realizem a transposição das diferenças de transferência, através da produção das associações correspondentes entre a primeira língua e a língua estrangeira. O status final de uma integração bem-sucedida das diferenças conceituais pode ser designado com o conceito de “transdiferença”, originado das ciências sociais cognitivas. Dessa forma, da didática cognitiva da linguagem, é formada uma ponte natural para a cultura e sociedade do país, porque os fundamentos da cultura de um idioma podem ser explicados de forma plástica, compreensível e consistente.
 
Portanto, a diferença de transferência das línguas não representa nenhum obstáculo para a aprendizagem da língua. Pelo contrário, ela dá início a processos importantes da conscientização conceitual da língua, que desempenham um papel fundamental na aquisição da competência conceitual na língua estrangeira e também na língua de partida.
  
 

Literatura

Gradel, Valentina (2016): The acquisition of the German case system by foreign language learners through computer animations based on cognitive linguistics. In: Stefanowitsch, Antol/Schoenefeld, Doris (Hg.): Yearbook of the German Cognitive Linguistics Association. Berlin/Boston: De Gruyter, S. 113-134.

Kanaplianik (EL-Bouz), Katsiaryna (2016): Kognitionslinguistisch basierte Animationen für die deutschen Modalverben. Zusammenspiel der kognitiven Linguistik und des multimedialen Lernens bei der Sprachvermittlung. Berlin/Münster: Lit. Verlag.

Langacker, Ronald W. (2008): Cognitive Grammar. A Basic Introduction. Oxford/New York: Oxford University Press.

Littlemore, Jeannette (2009): Applying cognitive linguistics to second language learning and teaching. Basingstoke/New York: Palgrave Macmillan.

Roche, Jörg (2013): Mehrsprachigkeitstheorie. Erwerb – Kognition – Transkulturation – Ökologie. Tübingen: Narr.

Roche, Jörg/Suñer Muñoz, Ferran (2014): Kognition und Grammatik: Ein kognitionswissenschaftlicher Ansatz zur Grammatikvermittlung am Beispiel der Grammatikanimationen. In: Zeitschrift für Interkulturellen Fremdsprachenunterricht 19. Jg., H. 2, S. 119-145.

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