Exposição Vozes de Sangue Negro

Vozes de Sangue Negro © Goethe-Institut e. V.

2ª, 02.05.2022 -
sáb, 04.06.2022

Galeria do Goethe-Institut/ICBA

“Nossa voz ergueu-se consciente e bárbara
sobre o branco egoísmo dos homens
sobre a indiferença assassina de todos” (Noémia Souza).

            A arte é uma forma peculiar de consciência social, que tem o potencial de impulsionar as pessoas para transformar criativamente as condições opressivas que as cercam. A arte pode despertar nas pessoas um sentido para sua emancipação social, tornar-se independente e libertar-se. Os versos de Noémia Souza nos impulsionaram a erguer nossas vozes, vozes de sangue negro, conscientes do extermínio de irmãos e irmãs sob condições opressivas seculares.

            A exposição artística “Eguns dançam entre Necro&Ikupolítica – Encruzilhadas poéticas entre o vídeo e a performance” surge em um momento que a humanidade vive uma pandemia mortal. No Brasil, esta mesma pandemia teve impactos sobressalentes na população negra, operária e com baixa renda, de modo que é significativo o fato de que sua primeira vítima tenha sido uma mulher preta, empregada doméstica, infectada em seu espaço de trabalho. Entretanto, nosso convívio com a morte deliberada não é uma experiência nova ou extraordinária. Infelizmente, desde o período colonial, a necropolítica, a política de morte, promovida pelo Estado brasileiro tem como alvo deliberado a população negra. E o que a arte tem a ver com isso? Qual é o comprometimento estético que a Cia de Teatro da UFBA pode ter na busca pela emancipação social de pessoas negras?

            Primeiramente, os artistas-professores Alexandra Dumas, Evani Tavares e Stênio Soares consolidaram um aquilombamento artístico e propuseram uma obra-projeto intitulada Vozes de Sangue Negro, que aconteceu enquanto uma ocupação abolicionista na Cia de Teatro da UFBA. A ocupação se desenvolveu como um work-in-progress, sistematizado em três atos: No 1º Ato, realizamos o Seminário Internacional Abolicionismo e Arte, com mais de 2800 participantes, atentas e atentos às provocações sensíveis de Angela Davis, Gina Dent, Carmen Luz e Angelo Flávio. No 2º Ato, as atrizes, bailarinas e performers submergiram em um estudo em linguagem da performance, intervindo no espaço urbano das cidades de Salvador e de Itaparica, investigando o retorno afrocentrado que se propõe nesta obra-projeto: retomar o que há muito tempo os povos africanos empregam com a música, a dança e o canto/conto como componentes-chave na comunicação e educação. O maestro Leitieres Leite, que partiu para o Orun poucos dias depois da aprovação do projeto, nos deixou uma obra riquíssima e inspiradora, e a poeta Denise Carrascoza construiu uma dramaturgia ritual com 9 eguns (espíritos de mortos), que ela indica como filhos da violência imperialista, corpos descarnados de suas vozes, que flutuam em espaços liminares  entre a “Necropolítica” (A. Mbembe) e a “Ikupolítica” (Uã Flor). Os oito primeiros foram emudecidos no ato violento de fecundação de sua morte e o último dos 9 carrega a memória sonora do início dos tempos.

            O 3º Ato poético-político da obra-projeto Vozes de Sangue Negro é a exposição dessas vozes em música-dança-canto-conto e, para tanto, abrimos encruzilhadas com a linguagem do vídeo, no sentido de uma afrotopia que busca renovar as fontes do imaginário e a concepção de um além (F. Sarr). As encruzilhadas poéticas entre o vídeo e a performance são apresentadas na mostra “Eguns dançam entre Necro&Ikupolítica”. Reunimos dez videoperformances, organizados em três espaços: Na galeria 1, encontram-se três alegorias inspiradas na dramaturgia, na galeria central apresentamos seis videoperformances, a partir de seis vozes de eguns vítimas da necropolítica, e finalmente, por meio da rede sem fio, na imaterialidade tecnológica da frequência das ondas, acessamos à duas vozes.
A partir dessa experiência, a Cia de Teatro desfronteiraliza as linguagens artísticas sistematizadas pela colonização estética branco-europeia e retoma o princípio da encruzilhada, que reside nas poéticas africanas e afro-diaspóricas.


Stênio Soares
Diretor Artístico do projeto Vozes de Sangue Negro
Professor da Escola de Teatro da UFBA

Abertura: 02/05/2022 às 18:00
Visitação: 02/05 a 04/06/2022, seg a sex das 09:00 às 18:00, sábados das 09:00 às 17:00
Onde: Galeria do Goethe-Institut Salvador-Bahia
 

Voltar