Acesso rápido:

Ir diretamente para o conteúdo (Alt 1) Ir diretamente para a navegação principal (Alt 2)

Diversidade na indústria cinematográfica
"Todos nós somos modelos!"

 O ator e humorista turco-alemão Tan Caglar está sentado numa cadeira de rodas. Podemos vê-lo na série televisiva „In aller Freundschaft“ (Com toda a amizade, das emissoras ARD/MDR) e noutras.
O ator e humorista turco-alemão Tan Caglar está sentado numa cadeira de rodas. Podemos vê-lo na série televisiva „In aller Freundschaft“ (Com toda a amizade, das emissoras ARD/MDR) e noutras. | Foto (detalhe): © MDR/Saxonia Media/Rudolf Wernicke

Sheri Hagen, actriz, realizadora e produtora, está envolvida no movimento pela diversidade na indústria cinematográfica alemã. Fala sobre aquilo que tem de ser alterado à frente e atrás da câmara.

De Ana Maria Michel

Sheri Hagen nasceu em Lagos (Nigéria) e viveu posteriormente em Hamburgo. Podemos vê-la como atriz, em cinema e televisão, nos filmes “As vidas dos outros” e “Baal”, ou na série televisiva “Tatort”. Em 2015, fundou a sua empresa de produção “Equality Film”. Depois de “Auf den zweiten Blick” (“ À segunda vista”) e “Fenster Blau” (“Janela azul”), Hagen trabalha neste momento na sua terceira longa-metragem, “Billie”. Sheri Hagen nasceu em Lagos (Nigéria) e viveu posteriormente em Hamburgo. Podemos vê-la como atriz, em cinema e televisão, nos filmes “As vidas dos outros” e “Baal”, ou na série televisiva “Tatort”. Em 2015, fundou a sua empresa de produção “Equality Film”. Depois de “Auf den zweiten Blick” (“ À segunda vista”) e “Fenster Blau” (“Janela azul”), Hagen trabalha neste momento na sua terceira longa-metragem, “Billie”. | Foto (detalhe): © picture alliance / dpa / Roland Popp Senhora Hagen, o estudo “Diversidade no Cinema” mostrou este ano que a discriminação é um grande problema na indústria cinematográfica alemã. Essa conclusão tem origem num inquérito online em que colaboraram 6000 criadores cinematográficos de 440 profissões entre julho e outubro de 2020. Por que razão colaborou no grupo inicial que formulou o conteúdo desse inquérito?
 
Queria saber em que medida existe realmente diversidade à frente e atrás da câmara. E saber se a minha sensação de monotonia é enganosa ou se pode ser finalmente comprovada através de números concretos e em que medida se pratica a exclusão no panorama do cinema e da televisão.
 
Houve algo que a tivesse surpreendido nestes resultados?
 
Sim, o facto de 81% das mulheres terem sido repetidamente vítimas de assédio sexual num contexto profissional de trabalho e que mais de 70% das pessoas com origem migrante se viram descritas através de lugares-comuns. Isto confirma que os nossos conteúdos são apenas narrados para um certo tipo de público.
 
Houve alguma transformação desde a publicação do estudo?  
 
O estudo foi o ponto de partida para um discussão em associações e instituições cinematográficas, mas ainda falta a coragem para dar grandes passos e implementar realmente essa diversidade na indústria cinematográfica. É necessária uma desconstrução nos institutos de financiamento ao cinema. As produtoras têm de ser fortalecidas financeiramente de maneira a que sejam possíveis acessos sem barreiras. O cinema tem de ser visto como um bem cultural que reduz a discriminação e tem de ser um modelo para todas as pessoas, mostrando-as na sua diversidade.
 
Que papel desempenha a diversidade no financiamento cinematográfico até agora?
 
Não tenho bem a certeza, se a Alemanha deseja realmente mais diversidade. Os conteúdos quase não se alteram e também não vejo muitos grupos com diversidade. Vejo poucas pessoas de pele escura ou com deficiência em posições de responsabilidade. Enquanto atrás das câmaras e nos conteúdos não houver mudança, a diversidade na indústria cinematográfica vai continuar a ser uma utopia.
Conseguiu chegar a Hollywood depois de trabalhar em cinema e televisão na Alemanha: o ator Murali Perumal entrou no filme „Big Game – die Jagd beginnt“ em 2014 Conseguiu chegar a Hollywood depois de trabalhar em cinema e televisão na Alemanha: o ator Murali Perumal entrou no filme „Big Game – die Jagd beginnt“ em 2014 | Foto (detalhe): © picture alliance/Eventpress/Eventpress Radke Em 2020, a Filmförderung Hamburg Schleswig-Holstein introduziu uma lista para verificação da diversidade. O seu projeto cinematográfico “Billie” foi posteriormente apoiado com 25 000 euros. Como foi a sua experiência com essa lista?
 
Estou realmente contente por existir essa ferramenta útil para uma verificação autónoma. A lista desencadeou debates e abriu espaços. Há novos contadores e contadoras de histórias que agora têm mais oportunidades. Infelizmente, não houve muitas instituições de financiamento a seguirem o mesmo caminho. Muitos falam de mais diversidade, mas ficam agarrados às velhas estruturas. Uma lista desse género para os criativos também não é suficiente. Precisamos de algo idêntico para os decisores e decisoras dos canais.
 
Os críticos dizem que essa lista limita a liberdade artística.
 
Estou sempre a ouvir isso. Mas afinal, o que significa liberdade artística? Essa suposta liberdade artística não significará que ainda se está agarrado às velhas estruturas de poder? Tenho de aguentar isso constantemente. Histórias de conformidade com o sistema, mas que nada têm que ver com a realidade. Essa lista de controlo de diversidade é uma tentativa de arriscar algo novo. Diversidade significa mais possibilidades de narrativas e mais complexidade nas histórias, mas também a possibilidade de refletir a realidade das equipas atrás das câmaras, o que significa uma participação igualitária para todos.
 
Que importância devia ter a diversidade no cinema?
 
Na realidade, nenhuma. O que devia acontecer é que todos deviam ser vistos e ouvidos. A nossa sociedade é complexa e diversificada e a nossa realidade também é complexa e diversificada. Portanto, porque é que o cinema e televisão e as suas equipas não podem ser também complexos e diversificados? Em criança, nunca me vi no cinema e na televisão alemã, tal como os meus filhos não se veem. Espero que as minhas netas e os meus netos se possam ver no cinema e televisão, sem serem expostos, apenas humanamente, e sem marcação de ascendência.    
Desde há muito tempo defende uma maior diversidade na indústria cinematográfica: a actriz Maria Furtwängler em 2017, durante uma entrevista sobre a representações de género no cinema e na televisão. Desde há muito tempo defende uma maior diversidade na indústria cinematográfica: a actriz Maria Furtwängler em 2017, durante uma entrevista sobre a representações de género no cinema e na televisão. | Foto (detalhe): © picture alliance/dpa-Zentralbild/ Martin Schutt A UFA também pretende representar melhor a diversidade. Durante a série “Tatort” no canal NDR houve a iniciativa #actout,  em que se trabalhou com um “rider de inclusão”. Pensa que estes tipos de abordagens fazem sentido?
 
Penso que todas elas são corretas e inevitáveis. O desequilíbrio é demasiado grande e por isso todas as iniciativas são importantes e todas as tentativas de consciencialização em relação à responsabilidade social dos criadores e das criadoras de meios de comunicação.   
 
Da sua parte, quais são as exigências para o futuro da indústria cinematográfica alemã?
 
Exijo uma quota de 50:50 com uma base intersectorial e a adaptação da “BFI-Diversity-Standards, Mindfulness- and Intimacy-Trainer” britânica no set e nas produções, tal como filmes sem barreiras.
 
Em relação ao racismo no quotidiano, a realizadora Sarah Blaßkiewitz refere que as pessoas atingidas apontam os problemas, mas não conseguem dar soluções. Como vê esta questão?
 
De forma semelhante. As organizações que representam as pessoas não – privilegiadas, já estão a proporcionar soluções ou medidas. Mas que não são aceites, nem sequer pela política. Muito frequentemente, os ataques racistas ficam sem consequências. Mas somos todos nós que temos uma responsabilidade social, em especial os decisores e as decisoras, e não apenas os criativos. Todos nós somos modelos.
A atriz Minh-Khai Phan-Thi ficou conhecida através do canal de música VIVA e hoje em dia é uma cara muito conhecida de séries de televisão e do cinema, como por exemplo na comédia sobre Berlim-Oriental “Sonnenalle”. A atriz Minh-Khai Phan-Thi ficou conhecida através do canal de música VIVA e hoje em dia é uma cara muito conhecida de séries de televisão e do cinema, como por exemplo na comédia sobre Berlim-Oriental “Sonnenalle”. | Foto (detalhe): © picture alliance/Eventpress/Eventpress Fuhr