Cinemas Municipais
Outra forma de exibir filmes

Cinema comunitário de Freiburg
Cinema comunitário de Freiburg | Photo: © Kommunales Kino Freiburg

Há 50 anos, em 1966, era criado o primeiro cinema municipal na Alemanha. Hoje em dia, é difícil conceber a vida cultural das cidades sem estes cinemas apoiados pela administração local que, do ponto de vista artístico, têm muito mais liberdade do que os cinemas comerciais.

O Cinema66, em Essen, abriu as suas portas a 1 de Setembro de 1966, transformando-se no primeiro cinema municipal na Alemanha. A ele seguiu-se, em 1970, o filmforum de Duisburg, com sessões diárias. A expressão "kommunales Kino" (cinemas municipais), utilizada para designar essas instituições culturais não comerciais, surgiu um ano mais tarde, quando a administração de Frankfurt fundou um cinema diretamente subordinado à Secretaria de Cultura da cidade. Depois de algumas ações judiciais de proprietários de cinemas comerciais contra a inauguração do cinema apoiado pelo governo regional, alegando "concorrência desleal", um veredicto de 1972 ditou, na condição de “guardiões do património cultural, os cinemas municipais podiam receber fundos públicos. Isso despoletou uma corrida à fundação de cinemas: um ano depois, eram já dez os cinemas municipais na Alemanha.

Missão cultural dos cinemas municipais

O cinema Babylon, localizado no bairro Berlin-Mitte, na capital alemã, abriu as suas portas em 1929 e é um dos mais ativos cinemas alternativos do país, especialmente devido aos inúmeros ciclos que organiza anualmente, como por exemplo o Festival de Cinema Chinês de Berlim. Em 2005, uma das primeiras ações de Timothy Grossman que, juntamente com Tobias Hackel, assumiu a liderança do cinema “Babylon”, foi eliminar a palavra "arte" do nome do cinema. Segundo Grossmann, a arte não enche salas de cinema. Para Grossman, que nasceu em 1962 na antiga Berlim Oriental, uma retrospetiva de Bud Spencer é tão digna de ser exibida quanto uma versão restaurada de "Der Müde Tod" (A morte cansada), de Fritz Lang. Uma vez por semana, à meia-noite, o Babylon exibe filmes mudos, com banda sonora ao vivo a cargo da organista Anna Vavilkina. Da programação fazem também parte as sessões "Kinderwagen-Kino", para pais com crianças pequenas, bem como o ciclo "CinemAperitivo", aos domingos, onde são exibidos filmes italianos acompanhados de um pequeno aperitivo. 

Em nome da arte cinematográfica: o cineclube "mon ami" de Weimar

O surgimento destes cinemas está diretamente ligado com o encerramento de muitos dos cineclubes que tinham surgido depois de Segunda Guerra Mundial, explica Fabian Schauren, da Associação Federal de Cinemas Não-Comerciais. Ao mesmo tempo, muitas câmaras municipais pretendiam "profissionalizar o culto da arte cinematográfica". E, de facto, o princípio do cinema municipal consolidou-se nas décadas seguintes: em 2016, a Associação Federal de Cinemas Não-Comerciais, criada em 1975, reúne 127 cinemas e iniciativas. Qualquer cinema não comercial "que apoie o desenvolvimento local do cinema e preserve a herança cinematográfica”, pode tornar-se associado. Os cinemas municipais são financiados pelas administrações locais, com diferentes modelos de financiamento: enquanto alguns cinemas têm modelos de financiamento independentes, outros precisam de conseguir receitas num valor pré-determinado.

Embora a tipologia dos cinemas municipais seja muito distinta - de minúsculos cinemas em cidades mais pequenas, passando por cinemas universitários e até museus de cinema altamente especializados - há algo que os une: em primeiro lugar e acima de tudo, não terem de exibir filmes comerciais. Para além disso, os cinemas municipais também preservam a herança do cinema, dedicando parte das suas programações a retrospetivas e mostras variadas. Nos cinemas municipais há ainda espaço para formatos que praticamente desapareceram dos cinemas comerciais tradicionais, como por exemplo o filme experimental ou as curtas-metragens. Por fim, os cinemas municipais também organizam debates com cineastas, de forma a aproximar os artistas do público.

Babylon em Berlim-Mitte: entre filmes de arte e entretenimento

O cinema Babylon, localizado no bairro Berlin-Mitte, na capital alemã, abriu as suas portas em 1929 e é um dos mais ativos cinemas alternativos do país, especialmente devido aos inúmeros ciclos que organiza anualmente, como por exemplo o Festival de Cinema Chinês de Berlim. Em 2005, uma das primeiras ações de Timothy Grossman que, juntamente com Tobias Hackel, assumiu a liderança do cinema “Babylon”, foi eliminar a palavra "arte" do nome do cinema. Segundo Grossmann, a arte não enche salas de cinema. 

Para Grossman, que nasceu em 1962 na antiga Berlim Oriental, uma retrospetiva de Bud Spencer é tão digna de ser exibida quanto uma versão restaurada de "Der Müde Tod" (A morte cansada), de Fritz Lang. Uma vez por semana, à meia-noite, o Babylon exibe filmes mudos, com banda sonora ao vivo a cargo da organista Anna Vavilkina. Da programação fazem também parte as sessões "Kinderwagen-Kino", para pais com crianças pequenas, bem como o ciclo "CinemAperitivo", aos domingos, onde são exibidos filmes italianos acompanhados de um pequeno aperitivo. 

Em nome da arte cinematográfica: o cineclube "mon ami" de Weimar

Ao contrário de Timothy Grossman, o diretor do cinema "mon ami", de Weimar, apenas exibe filmes de arte. No seu escritório, decorado com cartazes de clássicos do cinema como "8½", de Federico Fellini, ou "Mulholland Drive", de David Lynch, Edgar Hartung fala do desafio que é manter um cinema municipal numa cidade com tanta tradição cultural como a de Weimar. Segundo Hartmung, é uma questão de saber aproveitar da melhor forma as infraestruturas existentes, pois só assim é possível manter-se fiel aos seus princípios na escolha da programação, sem comprometer o orçamento. O orçamento do cinema "mon ami" é financiado a 50% pelo município. Dos restantes 50%, metade são receitas das bilheteiras, e a outra metade fundos de terceiros. 

No que toca aos recursos humanos, o "mon ami" funciona há anos com menos funcionários do que o necessário, dois a três colaboradores a tempo parcial, o que torna a gestão do cineclube complicada, tendo em conta as 750 sessões que organiza e os 15 mil espetadores que recebe anualmente.

Bem equipado: o Caligari Filmbühne em Wiesbaden

Bem mais confortável, no que diz respeito aos recursos humanos, é a situação do Caligari Filmbühne, em Wiesbaden. Para além do diretor Uwe Stellberger, o cinema conta com outra funcionária a tempo inteiro, responsável pelas relações públicas e pela programação. Uma terceira funcionária é responsável pelo cinema infantil e colaboradores a tempo parcial assumem a contabilidade, a bilheteira e as projeções. O cinema, construído em 1926, tem também a vantagem de não ter receitas mínimas obrigatórias, sendo os eventuais prejuízos compensados pela administração local. Isso permite a Uwe Stellberger e à sua equipa concentrarem-se plenamente na programação do cinema e organizarem os vários festivais que fazem do Caligari um cinema reconhecido para além das fronteiras de Wiesbaden.
O Caligari Filmbühne in Wiesbaden – um cinema municipal com uma longa tradição

Olhar confiante para o futuro

Tal como os seus colegas de Berlim e Weimar, Uwe Stellberger está preparado para lidar com os desafios futuros. A notícia que o Netflix irá, nos próximos anos, ter no seu catálogo cada vez mais filmes que estão em exibição nos cinemas, não incomoda Stellberger. Esse é, segundo ele, um problema para os cinemas comerciais. E, de facto, nos últimos anos foram muito poucos os cinemas municipais obrigados a fecharem as suas portas. Cortes nos orçamentos dos cinemas municipais também costumam ser raros, sendo o maior problema, em alguns casos, a introdução do salário mínimo na Alemanha, situação que acaba por não afetar as instituições mais pequenas por funcionarem, na sua maioria, graças ao trabalho de voluntários.