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Arquitetura temporária
Espaço livre para ideias

Biblioteca ao ar livre em Magdeburg
Biblioteca ao ar livre em Magdeburg | Foto (detalhe): © KARO

Em cidades que perdem habitantes, abre-se espaço para novas abordagens arquitetónicas: o chamado "efémero". A arquitetura temporária volta, assim, a renascer.

De Petra Schönhöfer

Aparece um edifício e volta a desaparecer de repente. Para trás ficam a inspiração e, às vezes, também uma mudança do perfil do local. O arquiteto Thomas Knüvener explica o fenómeno e as razões por que combina bem com a sociedade moderna.

O conceito de arquitetura efémera já existe há séculoss, se pensarmos por exemplo nas construções temporárias destinadas a festas e ao teatro no período barroco. Porque é que volta a ter atualidade no século XXI?

Um dos motivos mais importantes são as mudanças económicas e sociais. A Alemanha em que vivemos é um país industrial rico, mas comparativamente ao período do pós-guerra já não se assiste a um crescimento contínuo; o desenvolvimento é desigual nas diferentes cidades. As fases de crescimento sucedem-se a períodos de estagnação ou contração. O que foi decisivo para muitas construções e arquiteturas temporárias foram os locais em que havia mudanças nas cidades. De repente criava-se um espaço livre – por exemplo em território industrial – que podia ser ocupado porque não havia ainda uma nova utilização em perspetiva.

O que faz com que edifícios não permanentes sejam tão estimulantes para os arquitetos?

O mais interessante da arquitetura efémera é poder ser encarada como uma experimentação. Contrariamente à arquitetura tradicional, feita para uma utilização de longa duração, é possível experimentar e testar várias coisas. Podemos utilizar materiais perecíveis. Como numa montagem experimental, um arquiteto pode correr riscos para desenvolver ideias novas.

um ferryboat temporário sobre o reno

A velocidade com que se vive nos atuais contextos urbanos tem algum tipo de influência no facto de as edificações temporárias assumirem tanta importância?

Há uma grande tendência para a centralidade do evento. As pessoas das cidades ficam fascinadas quando aparece uma coisa e volta a desaparecer ao fim de pouco tempo. É algo que tem um caráter semelhante às edificações festivas na época do barroco. No entanto, os edifícios não-permanentes de hoje estão disponíveis para camadas mais alargadas da população, enquanto no passado eram acessíveis apenas à nobreza. Hoje em dia estão ao alcance de grupos de cidadãos e de grandes marcas e empresas.

Pode dar um exemplo?

Fizemos uma instalação para o Teatro Schauspiel Köln, para o encerramento do projeto bienal «A cidade de amanhã». Trabalhámos, em conjunto com o Teatro e muitos interessados, no domínio do espaço público e da mobilidade. No final de junho de 2017, começou a atividade do «ferryboat espacial», um ferryboat temporário que liga a margem do Reno junto à catedral de Colónia à outra margem da cidade. É lá que se situa o centro do festival – também um edifício temporário – com um palco não permanente.

de novo atraente

O que acontece à arquitetura efémera quando deixa de ser necessária?

Distinguimos fundamentalmente três períodos de utilização arquitetónica: por um lado, a curta duração, por exemplo nos eventos, que vai de um fim de semana a um mês. Por outro lado, temos a arquitetura de longa duração. A terceira forma é a utilização intermédia, que vai de vários meses a dois ou três anos. Este modelo é típico, por exemplo, em Berlim e na região do Ruhr. Às vezes, contudo, a arquitetura temporária também é ultrapassada pelo desenvolvimento.

Onde, por exemplo?

Por exemplo na estação de mercadorias de Schalke-Sul. Gelsenkirchen é uma localidade muito marcada pelas mudanças industriais. A estação esteve desativada durante muito tempo, mas fica muito perto do centro da cidade, ao fim e ao cabo numa boa zona de habitação. Como Gelsenkirchen é uma cidade em retração, durante algum tempo não se sabia muito bem o que aconteceria em termos de procura. Foi assim que surgiu uma estratégia arquitetónica que contribuiu para a construção da imagem daquele local, através de um parque temporário com uma área coberta ao ar livre, um campo de voleibol de praia e pequenos jardins. A estratégia deu frutos, o terreno voltou a ser construído. Pode-se falar, neste caso, de uma intervenção de sucesso: a arquitetura efémera criou uma mudança na imagem de um lugar anteriormente pouco atraente.

 

  • Em Magdeburg, surgiu uma biblioteca ao ar livre num espaço abandonado Foto (detalhe): © Thomas Völkel/KARO
    Em Magdeburg, surgiu uma biblioteca ao ar livre num espaço abandonado
  • Os moradores ajudaram a construir uma biblioteca temporária feita de grades de bebida. Foto (detalhe): © Thomas Völkel/KARO
    Os moradores ajudaram a construir uma biblioteca temporária feita de grades de bebida.
  • A biblioteca temporária ao ar livre foi muito concorrida Foto (detalhe): © Thomas Völkel/KARO
    A biblioteca temporária ao ar livre foi muito concorrida
  • A biblioteca temporária foi tão concorrida, que foi decidido passar de estrutura temporária a permanente. Foto (detalhe): © Thomas Völkel/KARO
    A biblioteca temporária foi tão concorrida, que foi decidido passar de estrutura temporária a permanente.
  • Devido ao sucesso do projeto, a cidade decidiu construir uma biblioteca ao ar livre permanente nesse local. Foto (detalhe): © Thomas Völkel/KARO
    Devido ao sucesso do projeto, a cidade decidiu construir uma biblioteca ao ar livre permanente nesse local.
  • Devido ao sucesso do projeto, a cidade decidiu construir uma biblioteca ao ar livre permanente nesse local. Foto (detalhe): © Thomas Völkel/KARO
    Devido ao sucesso do projeto, a cidade decidiu construir uma biblioteca ao ar livre permanente nesse local.

Biblioteca a céu aberto

A arquitetura participativa é atualmente um tópico importante do planeamento e desenvolvimento urbanísticos. De que forma se articula a arquitetura efémera com esta tendência?

A arquitetura temporária oferece múltiplas possibilidades de participação. As construções são feitas de forma mais simples do que a de edifícios duradouros e podem ser também mais facilmente remodeladas. Os métodos de construção podem ser apropriados pelos leigos e estes podem participar na decisão acerca do que deve ser construído. Um exemplo é a biblioteca ao ar livre «Lesezeichen Salbke», do gabinete de arquitetura Karo: no bairro de Salbke, em Magdeburgo, um bairro em processo de retração, os arquitetos ergueram, em conjunto com os moradores, uma biblioteca ao ar livre, temporária, feita de caixotes de bebidas, no terreno abandonado da antiga biblioteca. Teve tanto sucesso que se decidiu construir no local uma biblioteca com caráter permanente a céu aberto.

Quais são os limites da construção não-permanente?

Temos exigências elevadas em termos de conforto. A proteção contra o ruído e o isolamento térmico não podem ser concretizados com os padrões habituais nas construções temporárias. A arquitetura efémera não é, por isso, uma solução para a construção duradoura de habitações nas nossas latitudes, mas é um complemento interessante na mala de ferramentas de um arquiteto.

Thomas Knüvener

é arquiteto e arquiteto paisagista; dirige um gabinete em Colónia. Além disso, é docente na Texas A&M University. Participa ativa e intensamente no debate público acerca do ambiente modificado pelo ser humano através de workshops, debates e campanhas.