Reinhard Kleist
Política e cultura pop

Reinhard Kleist: Nick Cave And The Bad Seeds
Reinhard Kleist: Nick Cave And The Bad Seeds | Foto (detalhe): © Reinhard Kleist, Nick Cave And The Bad Seeds, Carlsen Verlag GmbH, Hamburg 2017

Reinhard Kleist é um dos ilustradores e autores de banda desenhada mais bem-sucedidos na Alemanha. Os seus livros de banda desenhada, que já ganharam diversos prémios, debruçam-se sobre figuras excecionais das áreas da política, do desporto e da cultura.

A atleta Samia Yusuf Omar sonhava em competir nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Mas, em abril de 2012, morreu afogada ao largo de Malta, quando tentava fugir da Somália devido às ameaças dos islamitas, que condenavam as mulheres que faziam desporto.

Em Der Traum von Olympia, Reinhard Kleist conta a história de Omar. Publicada em 2015, esta obra comovente e inquietante retrata, de forma muito dramática, a dor e o sofrimento por que passam os refugiados que procuram fugir para a Europa. No prefácio, Kleist afirma que, com este livro, procura despertar o interesse do público sobre este drama, mostrando que, nas notas de rodapé dedicadas à política de refugiados se escondem destinos verdadeiros e que, por trás dos números abstratos, se encontram vidas humanas. Com esta obra, Kleist venceu, em 2016, o prémio Jahreschluchs de Literatura infantojuvenil e o Prémio Católico do Livro Infantojuvenil.

Biografias fantásticas e surrealistas

A obra de Kleist é multifacetada. Para além de abordar tópicos políticos como a crise de refugiados, o autor também se dedica à cultura pop. Kleist desenhou biografias ilustradas dos cantores Johnny Cash e Nick Cave, que interligam detalhes biográficos com elementos fantásticos e surrealistas.
 
As ilustrações eloquentes a preto e branco são marcadas por um traço expressivo – e adaptam-se perfeitamente à imagem de Nick Cave, com o seu fato de corte justo, a gravata estreita e o cabelo com gel. Em Nick Cave. Mercy on me (2017), Kleist conta a história do autor de duas perspetivas – do ponto de vista de amigos e colegas, e do ponto de vista dos protagonistas das letras das suas canções. O livro aborda as fases mais importantes da vida do cantor: na infância, adormecendo ao som das histórias de Dostoyevsky e Shakespeare lidas pelo pai; a transformação de Cave em vocalista da banda punk Birthday Party; e, finalmente, a mudança para Berlim e a fundação da banda The Bad Seeds, juntamente com músicos como Blixa Bargeld, vocalista dos Einstürzende Neubauten. Kleist conta a história da vida do músico de uma forma multifacetada e tocante, mas por vezes também deixa de lado a biografia de Cave para lançar um olhar sobre o abismo das suas letras.
 
Em 2006, estreou nas salas alemãs Walk the Line, o filme biográfico de Johnny Cash. Nesse mesmo ano, Kleist publicou a biografia ilustrada Cash – I See a Darkness, onde o autor se dedica a uma faceta da vida do lendário cantor country que não era relevante para a história de amor de Hollywood: o seu lado sombrio. Com desenhos expressivos e cinematograficamente dinâmicos, Kleist ilustra os altos e baixos do homem de negro, aborda os seus sucessos e falhanços causados por consumo excessivo de drogas e álcool.
 
 
No livro Der Boxer. Die wahre Geschichte des Hertzko Haft (O pugilista. A verdadeira história Hertzko Haft, 2012), pelo qual ganhou o Prémio do Livro Juvenil de 2013, Kleist também se envolve intensamente com uma biografia: a do pugilista judeu Hertzko Haft, que sobreviveu ao Holocausto por participar em lutas de vida ou morte contra outros prisioneiros para diversão dos nazis, num campo externo de Auschwitz. Em cooperação com o filho de Haft, Kleist transformou o relato de vida do prisioneiro num romance gráfico que transmite subtilmente o horror vivido mas que também prende o leitor de forma irresistível. O livro foi publicado inicialmente em forma de episódios no jornal diário Frankfurter Allgemeine Zeitung e já foi traduzido para várias línguas, encontrando grande ressonância no exterior devido ao seu tema e à forma como é apresentado.

  • Reinhard Kleist: trilogia Berlinoir . Scherbenmund, Mord! Foto (detalhe): © trilogia Berlinoir. Scherbenmund, Mord!, Narbenstadt, Edition 52, 2003-2008
    Reinhard Kleist: trilogia Berlinoir . Scherbenmund, Mord!
  • Havanna – Eine kubanische Reise Foto (detalhe): © Havanna – Eine kubanische Reise, Carlsen Verlag, 2008
    Havanna – Eine kubanische Reise
  • Reinhard Kleist: Havanna – Eine kubanische Reise Foto (detalhe): © Havanna – Eine kubanische Reise, Carlsen Verlag, 2008
    Reinhard Kleist: Havanna – Eine kubanische Reise
  • Reinhard Kleist: Castro Foto (detalhe): © Castro, Carlsen Verlag, 2010
    Reinhard Kleist: Castro
  • Reinhard Kleist: Castro Foto (detalhe): © Castro, Carlsen Verlag, 2010
    Reinhard Kleist: Castro
  • Reinhard Kleist: Der Boxer Foto (detalhe): © Der Boxer, Carlsen Verlag, 2012
    Reinhard Kleist: Der Boxer
  • Reinhard Kleist: Der Boxer Foto (detalhe): © Der Boxer, Carlsen Verlag, 2012
    Reinhard Kleist: Der Boxer
  • Reinhard Kleist: Nick Cave And The Bad Seeds Foto (detalhe): (c) Reinhard Kleist, Nick Cave And The Bad Seeds, Carlsen Verlag GmbH, Hamburg 2017
    Reinhard Kleist: Nick Cave And The Bad Seeds
  • Reinhard Kleist: Nick Cave And The Bad Seeds Foto (detalhe): (c) Reinhard Kleist, Nick Cave And The Bad Seeds, Carlsen Verlag, Hamburg 2017
    Reinhard Kleist: Nick Cave And The Bad Seeds
  • Reinhard Kleist: Nick Cave And The Bad Seeds Foto (detalhe): (c) Reinhard Kleist, Nick Cave And The Bad Seeds, Carlsen Verlag GmbH, Hamburg 2017
    Reinhard Kleist: Nick Cave And The Bad Seeds
  • Reinhard Kleist: Der Traum von Olympia Foto (detalhe): (c) Reinhard Kleist, Der Traum von Olympia, Carlsen Verlag Hamburg, 2015
    Reinhard Kleist: Der Traum von Olympia

Elogiado pela crítica, descoberto tardiamente pelo público

O sucesso do autor junto da crítica está presente desde o início: com o seu primeiro trabalho, Lovecraft (1994), concebido e desenvolvido durante o curso em Artes Gráficas e Design, Reinhard Kleist conquistou o disputado Prémio Max und Moritz do Salão de Banda Desenhada de Erlangen. O júri ficou encantado com a história fantástica e assustadora de um artista de banda desenhada que é confrontado com eventos sobrenaturais enquanto trabalha na biografia de um escritor americano de histórias de terror. A fascinação tornou-se ainda maior devido à arquitetura sofisticada das páginas com que Kleist encena os seus desenhos artísticos. Parecia haver despontado uma nova estrela da banda desenhada alemã. Mas, enquanto os críticos e conhecedores da área teciam rasgados elogios, as obras provavam ser complexas e pouco convencionais para o público em geral. Desde então, as coisas mudaram.
 
Foi na literatura de H. P. Lovecraft, Clive Barker e Oscar Wilde que Kleist encontrou a inspiração tanto para o conteúdo como para o design formal e expressivo dos seus livros. Em Dorian (1996), amalgamou O retrato de Dorian Gray, de Wilde, e Restos humanos, de Barker, e em Das Grauen im Gemäuer (2002), interpreta contos de Lovecraft com ilustrações a preto e branco.
 
No início da sua carreira, Kleist preferia situar as suas narrativas mórbidas e bizarras em cenários urbanos e apocalípticos. O pano de fundo da série Berlinoir (numa colaboração com Tobias O. Meissner) baseia-se em cenários e locais dos filmes Metrópolis, O gabinete do doutor Caligari, O terceiro homem e Blade Runner. Nesta trilogia, Kleist projeta uma visão sombria de uma Berlim futurista, dominada por um exército assassino de vampiros. Apenas alguns rebeldes têm a coragem para se revoltarem contra os tiranos, travando uma desesperada guerra de resistência na clandestinidade. Berlinoir é uma joia da banda desenhada de fantasia e, ao mesmo tempo, uma mordaz parábola política sobre questões sociais passadas e presentes.

Partindo de épocas específicas do século passado, Kleist recriou um mosaico desconcertante e retrofuturista da história contemporânea, repleto de referências estéticas e políticas passando pela luta dos trabalhadores, o fascismo, o socialismo da Alemanha Oriental e o capitalismo. Com a sua banda desenhada utópica, Kleist reage a eventos reais e desenha um retrato multifacetado e revelador da sociedade.
 
Nas suas obras, Kleist aborda não só personagens e acontecimentos históricos, mas também impressões e vivências pessoais. Em março de 2008, Kleist passou quatro semanas em Cuba, para poder descobrir o país e a sua população. Em esboços, ilustrações pictóricas e episódios de banda desenhada, Kleist captura o ambiente das ruas de Havana e as condições de vida da população do país.

Havanna – Eine kubanische Reise (2008) é um diário de viagens ilustrado, moldado pelas impressões subjetivas do autor. Kleist tem consciência de que não conseguiu mais do que uma visão superficial da cultura e da sociedade de Cuba durante sua breve estadia. Os seus desenhos não estão livres de lugares-comuns, mas, apesar disso, desde o seu regresso, o seu olhar sobre Cuba é mais diferenciado, especialmente tendo em conta a situação social na Alemanha.