Andar de bicicleta em Berlim
Entre a boa disposição e os perigos

Andar de bicicleta é, para muitos berlinenses, um estilo de vida. Considerada o meio de transporte ideal, para muitos o futuro continua a pertencer à bicicleta, 200 anos após a sua invenção.
De Alexandra Lau
"Na minha opinião, a ideia de uma cidade com mais espaço e um ar melhor é ótima", diz, por exemplo, uma ciclista que até com chuva não dispensa a bicicleta. Contudo, isto é ainda só uma ideia. Todos os dias, nas ruas – e não só nas de Berlim - os carros amontoam-se uns atrás dos outros, parando de semáforo em semáforo. Dentro dos carros, os guerreiros do trânsito observam os ciclistas a passar por eles. Mas já começa a mudar qualquer coisa na cabeça dos muitos automobilistas presos no trânsito. Com efeito, o trânsito no centro da cidade tem diminuído, embora, no início de 2018, apenas 13% dos percursos fosse feito de bicicleta. Em comparação, em Münster, a cidade número um na Alemanha no que toca ao uso de bicicletas, esse número ronda os 40%..
50% das viagens de carro em Berlim são mais curtas do que cinco quilómetros — uma boa distância para percorrer de bicicleta.
Idealista, pragmático, lutador: o ciclista berlinense
Quem anda de bicicleta em Berlim tem de estar atento a tudo, e não só ao próximo e movimentado cruzamento. A metrópole ainda está muito longe de ser uma capital de bicicletas. As estradas em Berlim não costumam ser muito divertidas, são demasiado estreitas e movimentadas. Ciclistas, automobilistas, autocarros, elétricos, peões — em muitos sítios reina uma luta cansativa pela própria faixa.Faixas para bicicletas? Muito poucas, muito estreitas e pouco visíveis. E, por vezes, também são usadas como estacionamento. Não é de admirar, então, que o famigerado ambiente berlinense fique frequentemente ainda mais rude. Automobilistas e ciclistas gesticulam, vociferam, empurram. Embora não sejam menos barulhentos, os ciclistas são, ainda, o elemento mais frágil no trânsito. Em 2017, morreram nove ciclistas em Berlim; em 2016, foram 17 as vítimas. A juntar a isso, todos os anos há centenas de feridos graves.

Andar de bicicleta é, para uns, uma oportunidade de ir do ponto A para o B. Para outros, é a possibilidade de desfrutar do próprio percurso. De bicicleta, a experiência pode ser muito mais rica do que atrás do volante. Por exemplo, um passeio pela cidade numa noite quente de verão, quando já não há quase trânsito nenhum, quando é possível fundirmo-nos com os pedais e deixarmo-nos ir, esquecendo tudo excetuando o trânsito.
Bicicletas partilhadas marcam a paisagem urbana
Quem pensa em mudar para as duas rodas, fica também a saber que nem vai precisar de ter uma bicicleta própria, pois as bicicletas partilhadas fazem já parte da paisagem urbana. Parece que a cada semana que passa há cada vez mais. Estão em todo o lado: raios cor de laranja néon, turquesa ou prateado, mesclas de cores fortes, por vezes em grupo, por vezes sozinhas. No início de 2018, havia mais de 16 mil bicicletas de seis fornecedores diferentes, e a tendência é para o número aumentar. O descontentamento também já se faz sentir, com as bicicletas partilhadas a obstruir ainda mais os passeios. No entanto, o fornecedor municipal Nextbike, um dos primeiros na cidade, assinala um aumento do número de utilizadores, apesar de uma concorrência crescente.

As rodas zumbem silenciosamente
Perante o poder das duas rodas, já chegou também, entretanto, à política, a ideia de que é necessário fazer mais pelas bicicletas. No início de 2018, no âmbito da "Lei de Mobilidade de Berlim", votou-se a primeira lei alemã sobre as bicicletas. Há, então, pelo menos, um raio de esperança. Berlim deverá criar mais corredores largos para bicicletas com "ondas verdes", vias rápidas para bicicletas sem cruzamentos, assim como ciclovias e estacionamentos para bicicletas. E estas são apenas algumas das medidas planeadas. "Com a Lei da Mobilidade, terá finalmente início uma nova era da política do trânsito, em que a cidade não pertencerá apenas aos automobilistas, mas a todas as pessoas", congratula-se a ADFC (Allgemeiner Deutscher Fahrrad-Club), organismo que defende os interesses dos ciclistas na Alemanha. A cidade das bicicletas começa já a desenvolver-se: cada vez mais iniciativas exigem zonas livres de automóveis e ciclovias. Os grandes projetos também adotam medidas mais concretas, como por exemplo, o projeto "Radbahn", um percurso para bicicletas de nove quilómetros por baixo do viaduto do metro de Berlim.Parques de estacionamento para bicicletas
Em Berlim, quase todos os candeeiros, todos os postes e até todas as plantazinhas frágeis são utilizados para prender as bicicletas com correntes. Segundo a iniciativa Volksentscheid Fahrrad (Referendo de Bicicletas), em Berlim são precisos 200 mil novos lugares de estacionamento para bicicletas. Além das colunas com cadeado, estão planeados parques de estacionamento para bicicletas com vários andares, em que as bicicletas poderão ser empilhadas quase até ao céu. Com 3500 lugares, o maior parque de estacionamento para bicicletas da Alemanha situa-se presentemente em Münster, e inclui alguns extras para que as bicicletas estejam em forma: um serviço de oficina, um aluguer adicional de bicicletas, e até mesmo um serviço de lavagem para bicicletas.Pois é, quem é que não irá querer trocar para uma bicicleta?