Economia sustentável e crise climática
Ipsos custodes: de que forma podemos obter uma maior responsabilidade empresarial
É uma bela manhã de Verão na costa da Toscana. Miúdos e graúdos puseram-se de carro a caminho, ao amanhecer, ainda o ar estava húmido da noite, a fim de apanharem o melhor lugar na praia. Pela hora de almoço, aglomeram-se centenas deles em fatos de banho coloridos, com sacos térmicos cheios de bebidas e sandes, e estendem as suas toalhas na única praia da Itália que oferece a combinação caribenha de areia branca e água azul-turquesa. Diretamente atrás deles, uma floresta feita de chaminés industriais bloqueia a vista para o céu.
De Gabriele Magro
A lei enquanto álibi
Já há um século que a fábrica de produtos químicos Solvay, em Rosignano, despeja resíduos industriais para as praias vizinhas e para o mar: o bicarbonato de sódio é a razão pela qual a areia e o fundo do mar são tão brancos – o que não é segredo nenhum. No entanto, os representantes da indústria química belga têm a certeza absoluta de que esta extensão costeira é própria para banhos. Apesar do relatório das Nações Unidas do ano de 1999, em que a praia é designada “uma das 15 zonas costeiras mais poluídas do Mediterrâneo”, apesar do relatório ARPAT 2014 em que é mencionado o teor de mercúrio na areia, apesar do pedido parlamentar de 2018 (página 101), em que é frisada "a poluição do solo e das águas subterrâneas por arsénio, crómio e outros metais pesados", apesar de... e é aqui que paro, porque tenho um limite de palavras para este artigo, mas poderia continuar esta lista à vontade. Apesar de tudo isto, a Solvay afirma estar a agir em conformidade com a lei. E isto é a verdade.Em vantagem
No ano de 2003, a empresa Solvay, que na altura descarregava cerca de 200 toneladas de sólidos em suspensão por ano no mar, viu-se forçada a concordar com um contrato de 60 toneladas em consequência de escândalos. Após a assinatura do contrato, a Solvay continuou a poluir o meio ambiente como se nada tivesse acontecido. Se a montanha não vai ao profeta, tem então o Ministério do Ambiente de ir à montanha. Com a regulamentação especial de 2015 por 250 toneladas (minuto 12:10 no vídeo), a empresa recebeu basicamente a permissão para poluir ainda mais o meio ambiente, do que já de qualquer maneira poluía. Os seus trabalhadores foram, entretanto, deixados em paz - com taxas de cancro muito acima da média regional e a sensação de que nenhuma outra forma de sustentabilidade conta, para além da económica, tanto para os seus empregadores como para aqueles que os deveriam de proteger.Ainda assim, a Solvay não é aqui um caso isolado, mas sim um exemplo padrão. Pensemos na história sem fim da ILVA: a siderurgia é um verdadeiro impulsionador de cancro na cidade de Taranto assolada pelo desemprego (página 11). Simultaneamente, 3/4 das receitas da cidade vêm no rastro da fábrica. O resultado: o trágico paradoxo de trabalhadores que viram os seus amigos a morrer de cancro e, ainda assim, esperam que a fábrica permaneça aberta. Em áreas com desemprego maciço, todos os que conseguem oferecer dez mil oportunidades de emprego estão em vantagem e ameaçam as entidades com o encerramento para obterem impunidade e dinheiros públicos.