Debate e Filme Programa 4: Emily Wardill e Michael Marder

Kira Muratova, Chekhovian Motifs. Still de filme. Foto: © Kira Muratova

17.12.2018, 18h30

Goethe-Institut Lisboa

Problematizar a realidade - encontros entre arte, cinema e filosofia

No dia 17 de dezembro, pelas 18h30, terá lugar uma conversa entre a artista plástica Emily Wardill e o filósofo Michael Marder, acompanhado pela projeção de Chekhovian Motifs (Chekhovskie motivy, 2002) da autoria da cineasta ucraniana Kira Muratova, falecida no passado mês de Junho.
 
Embora durante a preparação, Kira Muratova tenha lido de forma abrangente a obra de Anton Chekhov (1860-1904), refletindo sobre as suas personagens, temas e motivos, Chekhovian Motifs é a adaptação livre de dois textos curtos: o conto Difficult People (1886) e a peça teatral Tatiana Repina (1889). Por meio de um registo estilizado e hiper-realista, Muratova divide em duas partes o conto de uma família rural em que um estudante reclama o dinheiro que assegure as despesas relativas à sua partida de casa, colocando no meio a peça teatral em que uma mulher rica casa com um cantor de ópera, cuja antiga pretendente se suicida e regressa para assombrar o evento. Ao combinar atores profissionais e amadores, juntamente com participantes de um programa cómico televisivo conhecido pelo slapstick e pela composição artesanal, Muratova transforma o rapaz em observador da decadência material e intelectual das classes sociais privilegiadas e testemunha de um tempo mumificado a preto e branco, evocando a arte muda dos primórdios do cinema, época de que datam as comédias de repetições de Chekhov que serviram de base para o filme.  
 
As obras de arte, nomeadamente aquelas que trabalham a partir de material documental, podem oferecer um apelo particularmente desafiante para refletir sobre a realidade. Enquanto a ligação indexante à realidade que abordam garante ao som e à imagem uma credibilidade especifica, a postura do artista, a sua escolha estética, temática e política, bem como a posição autorreflexiva, podem gerar uma avaliação critica sobre a constituição dessa realidade. É neste ponto que a arte encontra a filosofia. A reflexão sobre a relação entre o mundo factual e a sua apropriação subjetiva, questionando as reivindicações hegemónicas de objetividade e autoridade e problematizando as contradições inerentes à sociedade, são, por imanência, questões filosóficas.
 
Emily Wardill apresentou internacionalmente o seu trabalho artístico, incluindo as exposições individuais: "Espaço Projeto", Museu Calouste Gulbenkian (2017), Bergen Kunsthall (2017), SMK – National Gallery of Denmark (Copenhaga, 2012), de Appel arts centre (Amsterdão, 2010), Contemporary Art Museum St. Louis  (2011) e ICA-Institute of Contemporary Arts (Londres, 2007–08). Participou na Biennale of Moving Images (Geneva, 2016) e na 54ª Bienal de Veneza (2011), e em exposições colectivas na Hayward Gallery (Londres), Witte de With (Roterdão), Museum Moderner Kunst Stiftung Ludwig Wien (Viena) e Museum of Contemporary Art (Miami). Wardill foi premiada com o prestigiado Jarman Award (2010) e o The Leverhulme Award (2011). Atualmente, é Professora na Malmö Art Academy.
 
Michael Marder é Professor Investigador no Departamento de Filosofia da Universidade do País Basco (Vitoria-Gasteiz). O seu trabalho abrande os campos da fenomenologia, filosofia ambiental e pensamento politico. Marder é Editor Associado da publicação “Telos: A Quarterly Journal of Critical Thought” e autor de diversos livros, incluindo: “Heidegger: Phenomenology, Ecology, Politics” (2018), “Energy Dreams: Of Actuality” (2017), “Dust” (2016), “Pyropolitics: When the World Is Ablaze” (2015), “Phenomena-Critique-Logos: The Project of Critical Phenomenology” (2014), “Plant-Thinking: A Philosophy of Vegetal Life” (2013), “The Philosopher's Plant: An Intellectual Herbarium” (2014), “Groundless Existence: The Political Ontology of Carl Schmitt” (2010) e “The Event of The Thing: Derrida's Post-Deconstructive Realism” (2009).
 
 
Problematizar a realidade – encontros entre arte, cinema e filosofia é um conjunto de programas que decorre de uma parceria entre IFILNOVA (CineLab) / FCSH / UNL, Goethe-Institut Portugal e Maumaus / Lumiar Cité e em colaboração com Apordoc / Doc’s Kingdom. Estes encontros internacionais entre artistas e investigadores focam-se no momento em que a arte, o cinema e a filosofia se entrelaçam num diálogo produtivo.

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