LeipzigAgricultura urbana em Leipzig: o amor ao cultivo e à comunidade
Quem vive em Leipzig conhece os schrebergärten [pequenas hortas urbanas]. Foi aqui que eles nasceram, é aqui que existe o museu correspondente. Durante alguns anos foram conotados com a pequena-burguesia, devido às suas regras rígidas. No complexo de schrebergärten do meu avô, por exemplo, só um quarto da área cultivável podia ser relvado, o resto tinha de ser plantado. Os canteiros estavam dispostos retangularmente e ai se o vizinho da horta do lado descobrisse ervas daninhas, podíamos ter a certeza de que seríamos motivo de coscuvilhice nas conversas por cima da cerca.
Agricultura urbana – em Berlim é, há muito, uma tendência. E em Leipzig?
Um vídeo no YouTube sobre uma horta comunitária no oeste de Leipzig deixou-me curiosa e levou-me a visitar a Annalinde Leipzig em junho. A horta está aberta duas vezes por semana e todos podem participar – nem sequer é preciso inscrevermo-nos. Em cerca de 50 canteiros elevados são cultivados legumes, ervas aromáticas e morangos. Também existem canteiros normais, iguais aos que conhecemos. À pergunta sobre a razão de preferir uma horta comunitária a uma horta individual, uma jovem da horta Annalinde diz-me que acha bonito que aqui haja sempre pessoas com quem pode cultivar em conjunto. E vejam só: no mesmo exato momento, um jovem junta-se a nós, diz que está aqui pela primeira vez e pergunta o que pode fazer. A resposta? «O que te apetecer. Agora estou a arrancar ervas daninhas, mas também podes mondar as cenouras ou fazer outra coisa qualquer, como quiseres!» – Em resumo: absolutamente nada complicado! Que a comunidade é aqui muito apreciada, é algo que se mostra igualmente noutras situações: por exemplo, todos os dias de trabalho terminam com um jantar conjunto, no qual se consome diretamente a colheita do dia.
Naturalmente que elas ainda existem, as pequenas hortas como o meu avô tinha, e em muitos complexos as regras foram, entretanto, afrouxadas. E também aqui podem nascer hortas comunitárias – embora não públicas, como a da minha amiga Alex. Em conjunto com amigos e amigas, no ano passado surgiu a ideia de arrendar uma horta. Dito e feito. São 14 pessoas que partilham agora uma horta de 400 m2 num complexo típico de hortas urbanas. À minha pergunta sobre se ali as regras foram afrouxadas, como em vários outros complexos de hortas na cidade, ela responde: «Não. A sebe só pode ter uma determinada altura, não podem ser mantidos animais, à noite tem de haver silêncio e no início fomos olhados com alguma desconfiança pelos vizinhos aqui estabelecidos há mais tempo.» Com os seus 28 anos, a Alex é das mais velhas do grupo, a maior parte tem entre 24 e 26 anos de idade. «E estas regras não vos enervam?», pergunto-lhe. «Nem um pouco. Crescemos quase todos na aldeia e estamos habituados a elas. Também achamos bem que existam regras, pois assim corre tudo bem.» Para comunicarem entre si utilizam o WhatsApp – dessa forma podem combinar quem está encarregado da rega, quem quer levar a cabo um determinado projeto ou onde está a chave naquele momento. E o que é que a Alex encontra de especialmente bonito numa horta urbana comunitária? «O facto de serem todas pessoas de quem eu gosto, e nos reunirmos frequentemente num apartamento partilhado e cozinharmos algo colhido de fresco – isto se não tivermos comido tudo durante a tarde logo na horta.»
Quando, há alguns séculos, as cidades começaram a crescer demasiado, foram instalados canteiros de legumes e de fruta, para não estarem dependentes exclusivamente do fornecimento exterior. Depois das guerras, cada metro quadrado das cidades era aproveitado para cultivar alimentos, quando as vias de transporte haviam sido destruídas. E, há cerca de 100 anos, os arrendatários de apartamentos começaram a adquirir hortas urbanas, para poderem gozar de um pouco de privacidade, de idílio e de colheitas próprias mesmo sem serem proprietários da sua casa. Esta motivação para a existência de hortas urbanas continua, talvez, a estar presente; mas a isso junta-se, hoje, em muitos casos, o desejo de comunidade – sobretudo quando vivemos num lugar que não é o lugar onde crescemos.