O Clube de Roma  Profetas do “decrescimento”

Uma imagem em duas partes: à esquerda, um céu azul nublado com um prado verde; à direita, uma tempestade com solo seco; no centro da imagem, uma árvore verde © Shutterstock

Imagine que, muitas décadas atrás, alguém tivesse avisado que o dogma do crescimento sem limites teria consequências problemáticas em médio prazo, e que seria necessário pensar que possivelmente os recursos não seriam inesgotáveis e que os problemas ambientais aumentariam de forma cumulativa. Foi exatamente isso que aconteceu. Por isso, um dossiê que trata hoje das questões do crescimento não pode deixar de incluir a história, ao mesmo tempo trágica e inspiradora, do Clube de Roma.
 

Retrato de Aurelio Peccei Aurelio Peccei | © Koen Suyk / Anefo, CC BY-SA 3.0 , via Wikimedia Commons No final dos anos 1960, o industrial italiano Aurelio Peccei começou a se preocupar com o futuro da humanidade. Protestos estudantis ao redor do mundo, a divisão ideológica da sociedade em capitalistas e anticapitalistas e os perceptíveis danos ambientais provocados pela industrialização faziam a perspectiva de futuro do planeta parecer sombria. E ele não estava sozinho, um grupo crescente de intelectuais tinha as mesmas preocupações. No início de 1968, Peccei organizou uma conferência em Roma, mas não ficou satisfeito com seus resultados, que lhe pareceram muito inconcretos, muito hesitantes, muito fracos. Ele reuniu um grupo de participantes que sentia o mesmo e assim nasceu o Clube de Roma.

Relatório sobre a situação da humanidade

Seguiram-se inúmeros encontros de um círculo crescente de especialistas em matemática, teoria de sistemas, economia, história, provenientes dos Estados Unidos, da Itália, França, Suíça, Áustria e Alemanha. Nos anos seguintes, o grupo assumiu a tarefa de criar visões para um futuro sustentável modelando possíveis cenários. Os primeiros resultados, baseados no extremamente simplificado “modelo World 3”, produzido a partir de poucos parâmetros, já teve muita repercussão nos círculos científicos. Em 1972, essas conclusões foram publicadas no livro comissionado pelo Clube, The Limits to Growth. A report for the Club of Rome’s Project on the Predicament of Mankind (Os limites do crescimento. um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade), de  Donella e Denis Meadows, do  Grupo de Dinâmica de Sistemas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
 
© The Club of Rome
A publicação estabeleceu o Clube de Roma como uma voz importante nas ciências sociais, na economia e na política internacionais. As previsões do livro, no entanto, foram amplamente criticadas como inexatas, pois serviam-se de números estimados de forma aproximada. Um dos prognósticos era, por exemplo, que as reservas de petróleo se esgotariam a partir de 1990 e as de gás natural, a partir de 1992. Esses números não foram questionados, e fatores como o avanço técnico, a utilização mais eficiente de recursos e novas invenções não foram levados em conta nesse modelo. Considerado até hoje, sobretudo nos meios conservadores, como “história de terror”, Limites do Crescimento foi um grande sucesso de público e causou furor no debate público. Mas sua real e concreta influência foi infelizmente limitada, embora tenha ficado cada vez mais claro, ao longo dos anos, que a realidade da catástrofe ambiental ameaça ultrapassar mesmo as mais ousadas previsões. Estudos como os da cientista holandesa Gaya Herrington apoiam hoje as previsões do Clube e sugerem que a situação global do clima seria muito mais positiva atualmente se os alertas das publicações de então tivessem sido levados a sério.

Até 2023, foram publicados mais de 50 “relatórios ao Clube de Roma”, que discutem diversos aspectos do crescimento econômico, da finitude de recursos, o desenvolvimento da população, mas também questões de justiça social. Eles foram sempre recebidos com enorme interesse e causaram polêmicos debates globais. É difícil medir sua verdadeira influência em nível mundial, mas uma coisa é certa: um tema que foi contrariado publicamente (e de forma claramente errônea) pelo presidente dos Estados Unidos, como na famosa declaração de Ronald Reagan: “Não há limites para o crescimento (…)” (no dia 20 de setembro de 1983 em um discurso na Universidade da Carolina do Sul em Columbia), ou que constou de um discurso programático do político alemão ultraconservador Wolfgang Schäuble (no dia 31 de janeiro de 2019, no Parlamento Alemão), é um tema percebido em esferas do poder nas quais a política do futuro é realmente determinada. E isso já é alguma coisa.

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