Tiago Macaciel: paixão despertada pelos filósofos

Tiago Macaciel, aluno do Goethe-Institut Rio de Janeiro
Ana Branco © Goethe-Institut

Tiago Macaciel está se preparando, no Goethe-Institut Rio de Janeiro, para realizar a prova de certificação do nível C2 no idioma alemão. O jovem não tem família alemã e começou os estudos da língua por conta própria. Sua principal motivação é o desejo de fazer um curso de pós-graduação na Alemanha. Tiago conta sua história inspiradora nesta entrevista e reforça: o alemão é possível, desde que haja dedicação e paixão.

Você não tem família de origem alemã. Por que decidiu aprender o idioma?

Língua, linguística e história sempre foram áreas do conhecimento que me atraíram profundamente. Lembro que entrei em contato com a cultura alemã mais fortemente no fim da adolescência, quando comecei a estudar filosofia. Li Nietzsche, Schopenhauer, Kant, muitos pensadores com publicações interessantíssimas. Sempre busquei aprendizados de forma autodidata e comprei um curso de alemão em fita cassete, na década de 1990. Comecei as aulas, mas acabei parando muito cedo, porque a língua não é fácil para quem fala português. A estrutura das frases é complexa, a ordem das palavras é totalmente diferente da nossa, há ainda a gramática, as declinações... acabei deixando de lado.

Passou o tempo e ingressei na faculdade em um curso de direito. Foi quando comecei a ver a influência do direito alemão no direito romano-germânico, que é o nosso sistema jurídico. Há especial influência no direito penal brasileiro, que é com o que trabalho atualmente. Estudando para concurso, comecei a dar ainda mais valor para a importância da filosofia alemã como um todo e sua relevância. Voltei, então, a estudar por conta própria.

E como foi seu desenvolvimento no aprendizado do idioma?

Nas minhas férias, em 2012, decidi que iria estudar a língua na Alemanha. Fiz um curso intensivo de um mês no Goethe-Institut Berlim e foi uma experiência sensacional. A imersão no idioma foi fundamental para mim. Quando cheguei lá, olhava os outdoors e não entendia nada. Perceber minha evolução foi um processo muito interessante.

Quando voltei para o Brasil, continuei estudando por conta própria e, um tempo depois, ingressei no Goethe-Institut Rio de Janeiro. Fiz alguns cursos especiais, como o Training Deutsch, e preparatórios para certificações. Em 2015, voltei para Berlim, para as salas de aula. Aí, a experiência foi outra. Já conseguia falar com todo mundo, pedir informação, ler jornal, ver televisão. Isso é muito gostoso. Quando você viaja e entende a língua falada, o lugar se abre para você.

Sua experiência mostra que o alemão é possível. Afinal, você começou estudando por conta própria, nunca frequentou um curso regular e, hoje, tem fluência. Qual dica você daria para quem está começando?

O alemão é possível, mas exige muita dedicação. Todo dia, leio a imprensa alemã para manter a língua na cabeça. Leio tudo a que tenho acesso, como romances e livros técnicos de direito, que compro quando vou à Alemanha ou pela internet, especialmente e-books. O mais difícil no alemão é a falta de contato constante com a língua. Não é tão fácil, por exemplo, encontrar filmes alemães ou falantes da língua, como acontece com o inglês, o espanhol e até o francês.

O que você admira na cultura alemã?

Eu admiro uma característica fantástica: os alemães discutem tudo de uma forma muito profunda. Isso fica claro até nos talk shows televisivos, que costumam reunir especialistas de várias áreas para debater assuntos de modo organizado, expondo ideias. Tudo é muito debatido. As diferentes opiniões são colocadas lado a lado. Não sei se a língua influi nessa vocação para discutir as coisas, nessa capacidade intelectual. A produção filosófica e acadêmica alemã é muito rica. É muito interessante como a democracia alemã e o sistema jurídico alemão funcionam. Têm defeitos, claro, mas no geral, são admiráveis.

Quais desafios você enxerga para o Goethe-Institut?

Especialmente no Brasil, a Alemanha ainda é pouco conhecida. Na escola, não estudamos nada sobre o país, até chegarmos à Primeira e à Segunda Guerra Mundial. Ou seja, nas aulas de história acabamos ficando marcados por eventos negativos. A língua também, muitas vezes, é descrita como feia, o que não é verdade. O alemão é difícil, é diferente do português, mas não é feio. Nenhum idioma é feio. A produção intelectual alemã é tão importante e atual, mas essa parte continua pouco lembrada pelos brasileiros.
 


 

Top