Ambiente de estudos e formas de aprendizado: Brincadeiras para aprender línguas
Aprender idiomas brincando

Aprender uma língua brincando e por meio de jogos: Será que isso é possível? Perfeitamente possível! Desde que se saiba aplicar as possibilidades da brincadeira corretamente na aula e se, apesar da meta da linguagem, a diversão do jogo não for deixada de lado.

Resumo

Muitas vezes, brincar e aprender parecem ser duas coisas opostas. Uma coisa está relacionada com o tempo livre ou a infância e a outra com a parte séria da vida. Mas brincar não é uma coisa só para crianças e, na verdade, brincando se aprende muito. Além disso, aprender brincando pode ser muito divertido e variado. O que sabemos sobre a relação entre brincar e aprender? E como esse conhecimento pode ser aplicado à aula de línguas estrangeiras?


Do ponto de vista neurocientífico, aprender significa que são realizados processos de crescimento e organização no cérebro. A arquitetura do cérebro se adapta quando alguma coisa é usada, testada ou exercitada repetidamente. Neste sentido, brincar pode ser muito útil porque, afinal, nas brincadeiras, jogadores e jogadoras são testados intensamente quanto a lidar e agir com coisas e desafios.
 
Enquanto for divertido, são repetidas inclusive aqueles conteúdos e habilidades que possivelmente teriam sido entediantes sem o estímulo da brincadeira. A repetição e a intensidade da impressão do jogo podem aumentar a capacidade de desempenho das sinapses como pontos de comunicação entre as células nervosas - e o cérebro aprende. Consequentemente, é mais fácil recuperar as sequências ou competências treinadas. Muitas vezes, através do exercício em forma de jogos, é possível até automatizar partes do desempenho, o que alivia a memória e nos permite concentrar a atenção em outra coisa. Portanto, brincar e aprender não se excluem mutuamente – pelo contrário.

DIVERSÃO, MOVIMENTO – RISCO!
 

Do ponto de vista biológico-comportamental, uma das principais finalidades de brincar também é aprender (ver Sachser 2009: 20). Não só o ser humano brinca, mas também alguns animais, principalmente os filhotes. Com frequência, eles assumem com isso um risco que vale a pena, devido ao efeito de aprendizado. Na brincadeira, é exercitado na prática o que já se sabe, novas coisas são testadas e estratégias de realização desenvolvidas. Além disso, as brincadeiras seguem suas regras respectivas oferecendo, com isso, uma estrutura que pode estar presente em muitos processos de aprendizagem.
 
Aprender é consistente, principalmente, quando é acompanhado por emoções positivas. As pessoas brincam porque se divertem, ou seja, por uma “motivação intrínseca”, porque brincar é uma atividade que ativa o sistema de recompensa do corpo através da liberação do neurotransmissor dopamina no cérebro, mesmo que faltem recompensas externas. Portanto, na brincadeira, o que foi treinado tem ótimas chances de ser armazenado no cérebro, bem conectado, permanentemente.

Além disso, o movimento faz parte de muitos jogos. O movimento ao aprender pode ter uma ação positiva sobre o rendimento da aprendizagem, aumentar a tolerância à frustração e a resistência, bem como contribuir para reduzir experiências de estresse e sobrecarga (ver Sambanis 2013: 89 e seguintes). Inclusive nos experimentos com animais, foi possível constatar um aumento do fator de crescimento BDNF no cérebro de ratos que estavam “brincando” entre eles, essa proteína que é importante para a formação e conservação de células nervosas e suas conexões. Nesse caso, foi demonstrado que a interação social, que também é uma característica de muitos jogos de aprendizagem de línguas, representou um fator de favorecimento (ver Spitzer 2008: 458 e seguintes). É possível partir do princípio de que a convivência nas brincadeiras é um fator de desenvolvimento não só para os ratos!
 
Existem bons motivos para empregar formas lúdicas de aprendizagem de línguas também para adultos. O movimento também pode ser realizado naquilo que é conhecido como pausas para movimentação. As pausas para movimentação servem principalmente para descontrair depois de uma concentração mais intensa, bem como para manter a motivação dos alunos e alunas.

“CAMPOS DESCONTRAÍDOS”

Nos contextos de ensino-aprendizado, as brincadeiras de aprender línguas são de interesse especial, porque unem os objetivos da brincadeira e da aprendizagem. A atividade lúdica deve levar a um efeito específico de aprendizagem (ver Kleppin 2007: 263). Neste sentido, é muito importante que a atividade lúdica não seja sacrificada em prol da meta linguística. Se a brincadeira for utilizada como um “fim para os meios”, os participantes podem se sentir enganados e reagir com má vontade e poucas emoções necessárias para incentivar o aprendizado. Os objetivos previstos não são alcançados com jogadores e jogadoras não motivados.
 
Para que a diversão possa estar presente, os alunos floresçam nas atividades lúdicas e sejam alcançados os efeitos de aprendizagem esperados, é necessário contar com um “espaço descontraído” (Sachser 2009: 26 e seguintes). Os espaços descontraídos surgem quando os alunos se sentem seguros, por exemplo, sob a proteção do grupo ou em encenações, quando não precisam agir como eles mesmos. Ao mesmo tempo, o espaço deve oferecer certo atrativo e não pode gerar desinteresse nem ser maçante.
 
Em suas cartas sobre a educação estética do ser humano, Friedrich Schiller escreveu que uma pessoa somente brinca onde ela for uma pessoa, no verdadeiro sentido da palavra, e que somente é uma pessoa quando brinca – ou seja, em um espaço descontraído que oferece estímulos lúdicos.

SISTEMATIZAÇÃO DOS JOGOS DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS
 

Realizar uma representação sistemática de jogos de aprendizagem de línguas do ponto de vista didático não é fácil. Muitas vezes, alguns tipos de jogos não podem ser classificados com precisão e inclusive, em uma classificação, podem existir vários pontos de vista. Dependendo das metas da aprendizagem de línguas, é possível diferenciar entre jogos linguísticos, comunicativos-interativos, criativos, interculturais ou sistematizantes. As brincadeiras também podem ser classificadas em relação àquelas estratégias para as quais fornecem estímulos de exercício ou no sentido das competências que são seu objetivo.
 
Seja como for, o docente deve se perguntar, quais competências ou competências parciais devem ser treinadas através da brincadeira (especificação), onde o aluno está posicionado nessa área (determinação da localização), aonde a brincadeira de aprendizagem deve levar (concretização da meta) e qual intenção didático-metodológica da brincadeira de aprender línguas é a adequada – ou seja, se o jogo deve servir mais à introdução, fixação, automação, sistematização, reativação ou conexão (operacionalização). Além disso, deve ser comprovado se a brincadeira de aprender línguas realmente busca um alvo idiomático e também lúdico.


Entre os jogos populares que podem ser usados para desenvolver diferentes competências no aprendizado de línguas estão:
  • Jogos de tabuleiro, cartas, dados, como memória, quarteto, bingo e dominó, nos quais, por exemplo, a palavra e a imagem precisam ser interligadas entre si. Alguns jogos de tabuleiro possuem campos nos quais os jogadores tiram cartas de ação ou evento, e precisam resolver as tarefas apresentadas.
  • Jogos de adivinhação e memorização, como os Kim’s Games, jogos de peças geométricas, de perguntas e respostas, adivinhação e narração de histórias.
  • Jogos de reação, como os de apostas, em que é preciso pegar cartas com figuras ou palavras, ou jogos de associação de palavras, ligados com pegar uma bola que é atirada.

É claro que também existem jogos digitais. Nos jogos digitais, os princípios básicos do jogo são os mesmos. Entretanto, a aplicação de mídias, abre “espaços para jogar” especiais (consultar artigo de Althaus). Os professores podem selecionar o que for adequado entre a variedade de jogos disponíveis e aplicá-los na aula de tal forma que as metas de aprendizagem e as experiências de diversão com os jogos possam ser interligadas.

 

Literatura

Kleppin, Karin: „Sprachspiele und Sprachlernspiele“. In: Bausch, Karl-Richard et al. (Hrsg.): Handbuch Fremdsprachenunterricht. 5. Auflage 2007, 263-266.

Sachser, Norbert: „Neugier, Spiel und Lernen: Verhaltensbiologische Anmerkungen zur Kindheit.“ In: Herrmann, Ulrich (Hrsg.): Neurodidaktik. Grundlagen und Vorschläge für gehirngerechtes Lehren und Lernen. Weinheim und Basel: Beltz 2009, 19-30.

Sambanis, Michaela: Fremdsprachenunterricht und Neurowissenschaften. Tübingen: Narr 2013.

Spitzer, Manfred: „Spielen und Lernen. Friedrich Schiller und der Wachstumsfaktor BDNF.“ In: Nervenheilkunde (27/2008) 5, 458-462.