Entrevista com Gabriele Kniffka
“O ‘scaffolding’ é uma estrutura linguística (de suporte)”

Scaffolding
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A aula de disciplinas específicas exige conhecimentos específicos de linguagem. Entretanto, isso representa um problema justamente para crianças de camadas sociais de pouco estudo ou com alemão como segunda língua. O “scaffolding” é uma boa técnica para elaborar a aula de disciplinas específicas, tomando cuidado com a linguagem.

Prof. Kniffka, o que se entende por “scaffolding”?
 
 O “scaffolding” tem a ver com a transmissão da língua na aula de uma matéria específica, por exemplo, de matemática, geografia ou história, mantendo o conteúdo da matéria sempre em primeiro plano. O termo “scaffolding” provém do inglês e significa “andaime”. Oferecendo uma estrutura linguística (de suporte), é possível ajudar uma pessoa com menos dons de fala a expressar verbalmente o que ela não poderia fazer sozinha.
 
Por que a formação da língua é importante na aula de matérias específicas?

 
Prof. Dr. Gabriele Kniffka Foto (extrato): © privat A competência linguística privada e o sucesso escolar estão estreitamente ligados. Na escola, são fomentadas competências linguístico-culturais. Se essas estiverem ausentes, surgem rapidamente problemas de desempenho. Isto foi demonstrado várias vezes nos grandes estudos de competência escolar, como o PISA. Os prejudicados são principalmente as crianças de camadas sociais com poucos estudos e aquelas provenientes de outros países, que falam em casa um idioma diferente do que o falado na escola, porque o comportamento linguístico na família marca a competência de linguagem. Se palavras linguístico-culturais de alemão não são exercitadas ou são pouco praticadas na casa dos pais, isso afeta a competência de linguagem da criança. Então, dependendo do caso, elas não podem compreender as tarefas de texto na matéria de Matemática. Mas, independente disso, cada matéria tem uma linguagem técnica própria, vocabulário técnico, formas técnicas de trabalhar e de pensar próprias. A aula de alemão não pode ser responsável sozinha por desse tipo de formação da língua. Cabe a cada matéria a formação da língua na respectiva disciplina. Dessa forma, a escola proporciona a todas as crianças as chances de terem uma formação bem-sucedida.

Suporte na estruturação de competências de linguagem

Onde o processo de “scaffolding” é aplicável na aula?
 
Basicamente em todas as matérias escolares. O domínio da nova linguagem acompanha os novos conteúdos. Por exemplo, em história, eles falam sobre “Lehnsherren”, os senhores feudais. Isso não é simplesmente uma palavra; por trás dela, está um conceito abrangente que deve ser aprendido e transmitido. Ou as crianças aprendem a conhecer o ângulo reto em matemática. Talvez o termo “reto” seja conhecido na linguagem do cotidiano, mas na geometria isto tem uma conotação diferente. Além disso, a aula promove situações de uso da língua que devem ser exercitadas, como argumentar, descrever, explicar, resumir. Essa estrutura da competência da língua pode ser apoiada com técnicas de “scaffolding”.
 
Como eu, professor, devo agir para desenvolver um sistema de suporte?
 
A especialista em didática e professora de Letras, Pauline Gibbons, que marcou o processo de “scaffolding”, diferencia entre dois campos: o planejamento da aula e a interação na aula. Para planejar a aula, o docente analisa primeiramente o material a ser empregado: Qual é o assunto? Quais ações de linguagem, estruturas ou palavras são, por exemplo, exigidas pelos alunos? Essas exigências são comparadas com o nível de linguagem e de conhecimento deles. Com essa base, o docente estabelece as metas da matéria e de linguagem da aula ou de uma série de aulas e conecta, assim, os objetivos de linguagem e da matéria. A seguir, é pensado sobre o auxílio que os alunos precisam para poder alcançar essas metas.
 
Qual é a forma de interação na aula ou da prática da aula?
  Nova bússola de “scaffolding” Nova bússola de “scaffolding” | Foto (extrato): © Kniffka/Neuer Um possível modo de agir seria avançar do concreto para o abstrato em relação à matéria e, no plano linguístico, da linguagem cotidiana para a linguagem específica da matéria. Por exemplo, na aula de geografia, alunos devem aprender a saber como funciona uma bússola, como meta da matéria. A meta da linguagem é poder descrever a bússola com as peças que a compõem. Os alunos testam primeiramente uma bússola trabalhando junto com os colegas e descrevem, na sua linguagem cotidiana, aquilo que é observado por eles. No próximo passo, apresentam seus resultados à classe. Agora, precisam usar uma linguagem mais exata, porque não têm mais a bússola na mão. Nesta fase, o docente introduz termos técnicos da linguagem: “a rosa dos ventos” ou a “agulha da bússola”. Neste caso, o “scaffolding” significa que, aquilo que aprendi e compreendi na minha linguagem cotidiana, é estruturado em forma de léxico. Depois disso, é possível continuar experimentando e introduzir estruturas de frases. Já no final, os alunos devem estar em condições de ler e entender sozinhos um texto do livro escolar que fale sobre a bússola ou, dependendo da faixa etária, até mesmo redigir um texto próprio. O “scaffolding” está voltado a fazer com que os alunos se tornem cada vez mais independentes, em médio ou longo prazo, ou seja, o “scaffolding” também deveria ter como resultado que ele mesmo deixe de ser usado.

Preparação da aula de língua estrangeira
 

Até que ponto o “scaffolding” é aplicável já nas aulas de preparação internacionais, ou seja, para principiantes de aulas de línguas?

As técnicas de “scaffolding” podem ser bem empregadas também na aula de línguas estrangeiras ou de segundas línguas. As classes de preparação não servem, em primeiro lugar, para aprender alemão cotidiano. Elas preparam os alunos para seu papel de estudante de uma aula regular, onde precisam descrever tabelas, dominar conhecimentos técnicos a partir de textos ou fazer explanações. Usando conteúdos escolares autênticos, isso pode ser introduzido sistematicamente já na classe de preparação.

 
Poderia mencionar um exemplo?
 
Usemos “chunks” típicos da aula para principiantes do idioma, ou seja, pequenos blocos de fala, como “Eu venho do ...” / “Ele vem da...”‘. Os alunos podem usar esses trechos, por exemplo, em geografia descrevendo uma tabela simples sobre a origem de certas mercadorias importadas ou para criar um mapa do mundo temático. Eles podem pesquisar em sua língua materna onde o cacau ou os morangos são plantados e representar e apresentar os resultados com poucos meios linguísticos em alemão, em um mapa do mundo: “O cacau vem do …”. Com isso, os conteúdos da matéria e as técnicas de trabalho no Ensino Médio podem ser trabalhados de forma simples e transferidos para as exigências idiomáticas na escola a partir da linguagem cotidiana.

O “scaffolding” é mais consistente

Existem desvantagens ao usar o “scaffolding”?
 
Existem, porque a preparação da aula é bem mais demorada. A aula em si também progride mais lentamente, mas é mais consistente. Os alunos alcançam resultados melhores.
 
Os professores precisam de um treinamento especial para trabalhar com técnicas de “scaffolding”, como no campo de alemão como segunda língua?
 
Eu recomendaria que fossem feitas especializações nessa área. De acordo com a minha experiência, os professores de matérias escolares, que não são, ao mesmo tempo, professores ou professoras de idiomas, podem ter dificuldades para identificar as exigências de linguagem. A formulação ou a conexão de objetivos linguísticos e da matéria também exigem treinamento.
 
Quais potenciais de desenvolvimento você considera que o “scaffolding” tem?

 
Quem testou o “scaffolding” e teve a chance de provar os bons resultados, geralmente fica entusiasmado. Entretanto, o processo ainda não está suficientemente ancorado nos planos de curso, nos livros didáticos e na formação para professores. Os planos de ensino preveem que os conteúdos devem ser transmitidos de acordo com o grupo-alvo, mas essas especificações ainda são, muitas vezes, pouco específicas no que diz respeito à colocação em prática.
 
A Prof. Dr. Gabriele Kniffka leciona Línguas e Didática de Idiomas no Instituto de Língua Alemã e Literatura da Universidade Pedagógica de Friburgo. Adicionalmente, é presidente adjunta da Associação Profissional de Alemão como Língua Estrangeira e Segunda Língua (FaDaF, na sigla em alemão).