Indústria da música  O setor de negócios da música ao vivo

Quando vamos ter “Wacken” novamente? Desde a eclosão da pandemia do coronavírus, não há mais imagens como esta do festival Wacken Open Air 2019.
Quando vamos ter “Wacken” novamente? Desde a eclosão da pandemia do coronavírus, não há mais imagens como esta do festival Wacken Open Air 2019. Foto (detalhe): © picture alliance/Geisler-Fotopress/Andre Havergo

Festivais de música não são apenas uma parte fundamental da vida cultural alemã, eles também são um grande fator econômico. Antes da pandemia do coronavírus, o setor estava em franca expansão.

Hoje em dia, quase ninguém conheceria o pequeno lugarejo de Wacken, no Norte da Alemanha – se não fosse “Wacken”, o festival ao ar livre homônimo, que atraía todo ano no mês de agosto mais de 85 mil visitantes até ali. Promovido pela primeira vez em 1990, em uma cascalheira em Schleswig-Holstein, o evento está hoje entre os maiores festivais de heavy metal do mundo. Naquela época, o ingresso para os dois dias de festival no qual seis bandas regionais eram apreciadas por um público de 800 pessoas ainda custava 6 euros. Quem quis participar do evento no primeiro fim de semana de agosto de 2019 precisou desembolsar 210 euros e agir com rapidez: todos os 75 mil ingressos foram vendidos em menos de 24 horas.

Hoje, o festival imortalizado sob forma de filme no documentário Full Metal Village não é apenas considerado cult – com suas enormes dimensões, ele também é um fator econômico significativo para a região e para quem o promove: 150 bandas se apresentam em oito palcos distribuídos por uma área de 220 hectares, rodeada por uma cerca de segurança de 40 quilômetros de extensão. Até pouco tempo atrás, produtos promocionais, patrocinadores e parceiros faziam bastante dinheiro com a marca Wacken. Havia camisetas de Wacken, cerveja Wacken, festivais Wacken adicionais e até cruzeiros Wacken ou viagens de esqui Wacken. Desde 2008, a caixa econômica local, a Sparkasse Westholstein, estimulava o consumo com um cartão pré-pago feito especialmente para o festival. Segundo o banco, na semana por volta do evento, mais de um milhão de euros eram resgatados nos caixas automáticos.

Um público de mais de 85 mil pessoas veio a Schleswig-Holstein em 2019 para o 30º Wacken Open Air. Um público de mais de 85 mil pessoas veio a Schleswig-Holstein em 2019 para o 30º Wacken Open Air. | Foto (detalhe): © picture alliance/dpa/Axel Heimken

Quem ganha com o festival

Em vista de tais dimensões, logo fica claro: a economia alemã da música é um mercado bilionário. E, além disso, um mercado em crescimento: só em 2019, a receita total do setor aumentou por volta de 18%, chegando a 13,6 bilhões de euros, segundo os dados da segunda edição da pesquisa “Economia musical na Alemanha”, da empresa de consultoria berlinense DIW Econ. Com isso, o setor musical foi o segundo maior ramo da economia dentro de toda a indústria da mídia – e cerca de um terço de sua receita era proveniente de eventos de música ao vivo. Fãs de verdade pagam bastante por esses eventos: em 2017, por exemplo, residências particulares gastaram por volta de 3,1 bilhões de euros com festivais, concertos e shows.

A maioria desses eventos são organizados pelos aproximadamente 1.300 promotores de concertos da Alemanha. Dentre eles constam os promotores de festivais e turnês, que por sua vez trabalham com agências de eventos locais, como operadores de clubes e discotecas. De acordo com a Agência Federal de Estatísticas da Alemanha, o volume de negócios em 2018 foi de mais de dois bilhões de euros, 77% dos quais gerados exclusivamente com a venda de ingressos. Já para os operadores de clubes e pavilhões, o volume de negócios do comércio de mercadorias como comidas e bebidas foi a principal fonte de renda. Outros setores empresariais importantes da economia de eventos são a técnica, a alocação de pessoal e a logística.

Ao mesmo tempo, a economia musical também traz receitas para outros setores, como o turismo. Em 2019, por exemplo, foram feitas na Alemanha aproximadamente 6,5 milhões de viagens com objetivos musicais incluindo pernoites, 90% das quais foram excursões curtas. Assim, o volume de negócios originado pelo turismo musical aumentou em três bilhões para um total de 13 bilhões de euros em 2019. A viagem de fim de semana para um festival ocasiona, além do desembolso para os ingressos, naturalmente também gastos com a viagem, acomodação e alimentação, e com a compra de produtos promocionais. Algumas cidades destacam, portanto, seus eventos e locações musicais em sua publicidade turística.

Um vírus abala o mundo dos festivais

Em 2020, a pandemia do coronavírus interrompeu abrupta e gravemente o crescimento acentuado da economia musical dos últimos anos. Em 2021, a situação do setor foi de incerteza total e de prejuízo. Com uma significativa perda de receitas, a proibição de eventos provocou uma crise econômica entre pessoas criativas, promotores de eventos e gestores de clubes e salas de concertos, bem como pessoas envolvidas com agências, vendas de ingressos e outros serviços dependentes do setor. Devido ao estreito entrelaçamento da utilização de produtos e serviços de todas as áreas musicais entre si, milhares de empregos ficaram ameaçados.

Por isso, já em 2020, 40 festivais alemães de música, representando um total de 600 eventos musicais de todo o país, lançaram um apelo aos políticos requisitando assistência. Mas os festivais de verão de 2021 também não foram bem. Famosos festivais de música, como o Hurricane, em Hamburgo, o Southside, no estado Baden-Württemberg, o Natur One, em Hunsrück, o Fusion, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, o berlinense Lollapalooza e também Wacken: todos foram cancelados. Novos caminhos foram desbravados, por exemplo, com a série de festivais Strandkorb Open Air, que provocou, porém, reações contraditórias tanto em visitantes quanto artistas: no terreno ao ar livre, o público se instalava em cadeiras de praia duplas que cumpriam ambas as funções de passar uma atmosfera descontraída de férias e garantir o distanciamento seguro entre as pessoas. Um sistema de vias de mão única orientava a circulação das pessoas pela área, comidas e bebidas tinham que ser encomendadas online – um festival light, por assim dizer. O setor tem esperança de que em breve seja possível fazer mais que isso.

 Festival light: no Strandkorb Open Air, todos os requisitos de higiene são cumpridos. Festival light: no Strandkorb Open Air, todos os requisitos de higiene são cumpridos. | Foto (detalhe): © Gerd Wiggers/Strandkorb Open Air

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