Blogs literários  Fãs de literatura conquistam o Instagram

Visitantes da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, na Argentina, 2019.
Visitantes da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, na Argentina, 2019. Foto (detalhe): © picture alliance/ZUMAPRESS.com/Claudio Santisteban

O Instagram é a mídia social do momento, e também os fãs da literatura descobriram a plataforma. Com isso, surgiu uma nova forma de crítica literária composta de 2200 caracteres mais uma imagem.

O número de pessoas que utilizam o Instagram está em alta permanente: aproximadamente um bilhão de pessoas utilizam o aplicativo mensalmente, e 500 milhões, diariamente. Enquanto o aplicativo registra o maior número de pessoas inscritas nos EUA, na Índia, no Brasil, na Indonésia e na Rússia, na Alemanha elas somavam, de acordo com os últimos dados oficiais de agosto de 2017, aproximadamente 15 milhões.

A plataforma é ao mesmo tempo uma máquina de promessas e de vendas: com a dose certa de empolgação e uma mão habilidosa, qualquer pessoa pode conseguir virar influencer. Na verdade, nunca foi tão fácil produzir conteúdos atraentes com recursos relativamente simples: um smartphone com uma boa câmera, a aplicação rápida dos filtros de imagem adequados, e já se pode participar.

O foco é a imagem

Essa ideia foi pouco a pouco adentrando também o mundo dos blogs literários. Quem se interessa por lançamentos, literatura de gênero ou recomendações de livros para adultos jovens passou a se informar cada vez mais via Instagram. Também aqui, o destaque é o acesso fácil: quem não quer lidar com a configuração trabalhosa de um blog na plataforma Wordpress, ou mesmo com a programação do próprio site, pode simplesmente criar uma conta no Instagram e começar o “bookstagram”.

Mas isto também é uma realidade: em virtude de uma plataforma tão centrada em imagens como o Instagram, a resenha, que é o cerne dos blogs literários, acaba ficando em segundo plano. A visualização da descrição da imagem no feed de quem está lendo se limita a aproximadamente três linhas, e, mesmo depois de se clicar em “mais”, restam apenas 2.200 caracteres para um texto que forçosamente deve ser rápido e rasteiro. 

O foco principal está, portanto, na imagem. E aqui a criatividade não tem limites: os livros são colocados em cena em mesas de café, ao ar livre, segurados diante da câmera para aparecer em selfies, as cores são intensas, a nitidez é alta, às vezes há referências ao conteúdo, às vezes associações livres. Assim surge, quando gestado com seriedade, um portfólio que representa o próprio trabalho e também pode ser utilizado como marketing pessoal.

A leitura longa acontece em outro lugar

Por maior que seja o número de bookstagrammers, porém, a massa dos títulos resenhados é muitas vezes homogênea: best-sellers como, por exemplo, os livros de Juli Zeh ou de Sebastian Fitzek aparecem aos montes, mas também livros distribuídos conscienciosamente para pessoas interessadas  pelos departamentos de “blog relations” das editoras, responsáveis por cultivar relações com blogueiras e blogueiros. Pois as editoras também já entenderam a mensagem: as mídias sociais são um ótimo meio para se fazer publicidade de uma maneira especialmente autêntica. Departamentos inteiros das editoras dedicam-se exclusivamente a essa tarefa, esperando atingir outros públicos-alvo através dessa plataforma.

Estudos estimam que a maioria das pessoas que utilizam o Instagram esteja na faixa dos vinte e poucos anos e seja, portanto, sensivelmente mais jovem que a média das pessoas que leem jornais. O interesse em literatura de gênero, bem como em títulos destinados a adultos jovens, é proporcionalmente grande. São justamente esses os títulos que não são comentados em cadernos de cultura, mas que “funcionam particularmente bem” na plataforma, segundo Miriam Zeh, que transita em ambas as esferas. Zeh escreve críticas literárias para a emissora Deutschlandfunk, mas também participa do projeto “Books Up”, promovido pela Literaturhaus Bonn com o apoio do Ministério da Cultura e da Ciência do Estado Renânia do Norte-Vestfália, que quer levar a literatura às discussões em mídias sociais para um público-alvo jovem. “O Instagram é um mundo de bem-estar. Mas, às vezes, um pouco afirmativo demais”, explica ela. “É claro que não se pode comparar as dimensões com as do mundo de influencers de moda, que em parte até vivem de suas parecerias. Não há algo comparável no setor literário. Apesar disso, a forma como se fala sobre as coisas também tem um reflexo na bolha literária.”

Em nenhum outro lugar é tão fácil acumular likes para uma imagem encenada com perfeição. Já para uma crítica séria, a situação é mais difícil: devido ao foco visual, à satisfação de afetos narcisistas e a um alto grau de conteúdos que proporcionam identificação e através dos quais usuárias e usuários se colocam em cena e desfrutam da “instant gratification” – gratificação instantânea –, a atenção para conteúdos mais complexos simplesmente não está disponível. O processo de “long read”, a crítica literária detalhada e profunda, – acontece em outro lugar.

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