Brechós gratuitos  De presente!

Brechós gratuitos em Berlim
Brechós gratuitos em Berlim

“De graça” e “loja” – uma contradição? Nos aproximadamente 25 brechós gratuitos na Alemanha, aparentemente não: ali, podem ser adquiridas mercadorias de segunda mão sem pagar nada. Na prática, um procedimento diverso, democrático e muito sustentável.

Ali, no subúrbio da pacata cidade de Greifswald, uma pessoa como essa cliente chama a atenção: suas roupas são coloridas, com um toque punk, uma atmosfera vintage, um pouco como Vivienne Westwood. A seus pés, uma sacola de compras lotada de roupas ainda mais coloridas. Ela dá aquele sorriso de satisfação ao fim de uma busca bem-sucedida de ofertas. O conteúdo de sua sacola é, porém, mais do que o simples resultado de uma pechincha: ele saiu de graça. Ou melhor, adquirido sem custos em um estabelecimento de Greifswald: a Umsonstladen (loja de produtos gratuitos).

De A a Z

Na Alemanha, há aproximadamente 25 lojas desse tipo. Elas são uma espécie diferente de brechó, pois ali nada é vendido, apenas levado, sem qualquer custo, por quem se interessa. A oferta vai de A a Z, ou seja, não há praticamente nada que não possa ser encontrado nessas lojas: roupas, sapatos, livros, jogos infantis, copos, talheres e até decoração de Natal ou obras de arte. O que alguns querem descartar pode servir para outros.

O conceito da loja é simplesmente o de ajudar os mais desfavorecidos, que são na Alemanha um número cada vez maior de pessoas. E é também uma possiblidade de integrar a sustentabilidade no dia a dia. O número de pessoas que quer reciclar, trocar ou compartilhar, para dessa forma consumir menos, está também aumentando. Por que produzir montanhas inteiras de roupas sob condições desumanas, quando já temos tudo de que precisamos? Por que queimar roupas usadas em aterros sanitários, em vez de reutilizá-las?

A economia dos produtos gratuitos: mais procurada que nunca

Katrin Wanke encontrou na “Umsonstladen” em Greifswald alguns LPs do selo AMIGA, da antiga Alemanha Oriental. Entre os discos, um com faixas de Elton John.

Katrin Wanke encontrou na “Umsonstladen” em Greifswald alguns LPs do selo AMIGA, da antiga Alemanha Oriental. Entre os discos, um com faixas de Elton John.

Na Umsonstladen de Greifswald, as araras ficam cheias. Em uma época como esta, quando precisamos refletir diariamente sobre nossos recursos, o conceito de uma loja onde tudo é de graça parece mais atual que nunca. “Somos tão procurados no momento, que frequentemente temos que limitar o número de pessoas que entra por vez, para que todo mundo tenha espaço”, relata a gerente Victoria Oertel, que já trabalhou em estabelecimentos semelhantes em Berlim. As placas na loja são multilíngues: alemão, inglês, ucraniano. E isso tem uma razão: a guerra na Ucrânia levou muitos refugiados para Greifswald.

A agitação na loja é administrada por uma equipe de cerca de 12 voluntários, pois essa loja é organizada inteiramente de forma voluntária. Victoria Oertel, por exemplo, trabalha regularmente como assistente de pesquisa no Departamento de Filosofia da Universidade de Greifswald. Na loja, os ajudantes prestam consultoria, superam barreiras linguísticas, mantêm tudo arrumado e também garantem uma conduta que preza os usuários.

Nas lojas de produtos gratuitos, todo mundo é igual

Nesses brechós, entra quem quer. Ao contrário de organizações como “Die Tafel” ou da loja de roupas da Cruz Vermelha alemã, ali não é exigida qualquer comprovação de que a pessoa está passando necessidade. “Essa é uma diferença formal, mas também emocional: quem frequenta a loja vem como usuário, não como pessoa necessitada. Isso empodera, dá autonomia e permite a participação”, diz Oertel.

As condições sociais e de status são secundárias na Umsonstladen. Pessoas que trabalham e desempregadas, crianças e aposentados, estudantes e escolares averiguam lado a lado o estoque. “Poderia ter mais eletrônicos e mais panelas”, avaliam os funcionários. “Quando chegam panelas, elas desaparecem imediatamente”, contam. Não há um limite máximo de produtos que uma pessoa pode levar. Um aviso cordial no site da loja sugere apenas “bom senso” na seleção. E pede doações, pois a loja tem custos com aluguel e taxas adicionais: todas as despesas são financiadas exclusivamente por contribuições voluntárias.
Cantinho para as crianças na “Umsonstladen” em Greifswald. Cantinho para as crianças na “Umsonstladen” em Greifswald.

Movimento internacional do repasse

O conceito dos brechós gratuitos existe também em formato digital, como por exemplo na rede de doações Freecycle.org. Seus quase 11 milhões de membros em todo o mundo querem criar um movimento internacional de repasse de coisas, a fim de reduzir o desperdício e poupar recursos. Depois de se registrar gratuitamente, os usuários podem escolher uma cidade, anunciando lá seus produtos gratuitos ou “comprando”. O aplicativo do projeto Buynothing, nos EUA, funciona de maneira semelhante.

O princípio é: o que uma pessoa não valoriza mais pode se tornar um tesouro para outra. Por experiência própria, Oertel sabe que ocasionalmente acontece de alguém, sem querer, doar algo valioso; e outra pessoa, também sem querer, levar esse produto. A gerente afirma que fica feliz quando testemunha esse tipo de troca de propriedade. “Mas o que mais me impressiona é quando as pessoas nos entregam seus instrumentos musicais. Essa é uma doação muito pessoal”, diz ela. E uma colega acrescenta: “Cada coisa aqui na loja tem uma história para contar”.

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