Revistas literárias na Alemanha  A nova diversidade

A revista “Glitter” publica poesias e trechos de romances e peças teatrais sobretudo escritos por pessoas queer.
A revista “Glitter” publica poesias e trechos de romances e peças teatrais sobretudo escritos por pessoas queer. Foto (detalhe): © Glitter, Ilustração: Jasmina El Bouamraoui, Design: Huy Do

Elas são os laboratórios de pesquisa do mercado literário: as revistas apresentam novas vozes, concedem espaço a experimentos, testam formatos. Atualmente a diversidade é maior que nunca.

Em uma história das revistas literárias na Alemanha dos últimos 50 anos não poderiam faltar grandes nomes como Akzente, Sinn und Form e Die Horen. Todas elas foram fundadas há aproximadamente 70 anos e muitas grandes personalidades do mundo da escrita das últimas décadas publicaram ali seus textos, de poesia e prosa a ensaios políticos. As revistas BELLA triste e Edit, sediadas nas proximidades das escolas de escrita criativa de Hildesheim e Leipzig, desfrutam igualmente de grande renome e conseguiram, graças a transformações regulares em seu conceito e layout, manter-se interessantes e em posição de liderança.

Mas também há um grupo bem mais novo com uma ampla gama de publicações. Um mergulho nesse mundo diversificado de jovens revistas literárias conduz a universos muito distintos dos de suas já estabelecidas predecessoras. Elas guardam algumas surpresas em matéria de conteúdo, como, por exemplo, a revista Kapsel, totalmente especializada em ficção científica chinesa. “O que nos agrada tanto nas histórias da China é a imaginação, o otimismo e as visões e imagens poderosas, especialmente das pessoas jovens que escrevem”, é como Lukas Dobro, um dos fundadores da Kapsel, descreve a ideia por trás da revista. Sua edição atual, Träume (Sonhos), é muito colorida e traz textos de autoras e autores chineses em contraposição ao de colegas da Alemanha.

A diversidade fica mais visível

Em sua revista Literarische Diverse, Yasemin Altınay se concentra na diversidade. Sua terceira edição, publicada no fim de 2020, trouxe o tema “Resistência”. A revista compila tanto textos de pessoas pretas, indígenas e não brancas (BIPoC) como vozes da comunidade LGBTQI+. A quantidade do material já impressiona por si só: há um notável número de poesias, uma entrevista com a escritora e jornalista Sibel Schick sobre solidariedade, e várias fotos de manifestações do movimento Black Lives Matter do ano passado espalhadas pela edição. A editora, uma pessoa muito ocupada no melhor sentido da palavra, não se limita mais somente à sua revista: em 2019, fundou sua própria editora de livros, que já publicou um primeiro volume de poesias.
Textos de migrantes e vozes LGBTQI+ são publicados pela revista “Literarische Diverse”, de Yasemin Altınay,  que fundou também uma editora de livros com o mesmo nome em 2019. Textos de migrantes e vozes LGBTQI+ são publicados pela revista “Literarische Diverse”, de Yasemin Altınay, que fundou também uma editora de livros com o mesmo nome em 2019. | Foto (detalhe): © Literarische Diverse Verlag Um foco semelhante ao da Literarische Diverse foi adotado pela revista Glitter, cuja ênfase recai sobre pessoas queer que fazem literatura. “Será que pessoas negras, não brancas, mulheres ou queer não escrevem bem o suficiente para receber comentários em cadernos de cultura ou para receber incentivos financeiros ou prêmios?”, pergunta provocativamente a equipe no editorial, para logo depois fornecer a prova contrária: como na revista Literarische Diverse, o volume é repleto de contribuições que incluem poesias, excertos de romances e pequenos fragmentos de peças de teatro.

Mas, no sortimento atual, também se encontram revistas que se especializaram em gêneros literários específicos, como por exemplo a Transistor, dedicada em poesia contemporânea, que já publicou sua quarta edição. Se foram abordados anteriormente no prático formato pequeno campos temáticos como a crítica de poesia e a poesia digital, na nova edição tudo gira em torno da poeta Elke Erb, vencedora do Prêmio Georg Büchner de 2020. Às suas poesias, reagem em contribuições individuais profissionais da escrita como Ulf Stolterfoht, Olga Martynova e Jan Kuhlbrodt, e também vozes novas, como Alke Stachler, Rike Scheffler e Hannah Schraven.

Treinamento para atletas da literatura

Literatura como algo indigesto? A revista GYM reinterpreta essa imagem de forma surpreendente, dando a si mesma o subtítulo “revista literária como treinamento com pesos”. E é exatamente isso que ela oferece: sua segunda edição reúne poesia e prosa que versam sobre trabalho corporal como o que as mulheres executam na família, normalmente sem chamar atenção; sobre entrevistas de emprego em que se requer desempenho, competição e tática do acotovelamento; sobre pais que percebem que existem mundos entre eles e sua prole. “Entendemos a revista como parceira de treinamento para atletas da literatura”, declara a equipe editorial. “Para nós, o trabalho conjunto no texto tem menos a ver com exercício para adquirir massa, e mais com uma fase de definição interessante, produtiva e enriquecedora. A GYM é um lugar democrático no melhor sentido, mas nunca aleatória.”
 
Por fim, a Honich, que, renunciando a qualquer ilustração na capa, designa-se em preto e branco “revista de textos literários” quase poderia passar despercebida, graças a seu design atipicamente discreto. Para a terceira edição, a equipe editorial fez da modéstia uma virtude e pediu às pessoas a serem publicadas que lhe enviassem exclusivamente seus segundos melhores textos. Assim, esta edição proporciona um olhar dentro de suas gavetas, traz à vista textos que na verdade já haviam sido rejeitados, guardados e descartados. Os pensamentos desordenados de uma jovem mulher fazendo compras em uma drogaria e assistindo televisão. Reflexões associativas sobre o sentimento de ter nascido em uma Sexta-Feira Santa. Uma poesia explícita sobre fluidos corporais, automutilação e relações sexuais. E uma série de fotografias de impressões cotidianas com enquadramentos oblíquos – naturalmente em preto e branco.

A revista “Honich”, com seu design simples em preto e branco, teve recentemente uma ideia singular: em sua terceira edição, pediu às pessoas a serem publicadas que lhe enviassem exclusivamente seus segundos melhores textos. A revista “Honich”, com seu design simples em preto e branco, teve recentemente uma ideia singular: em sua terceira edição, pediu às pessoas a serem publicadas que lhe enviassem exclusivamente seus segundos melhores textos. | Foto (detalhe): © Honich

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