Diversidade na indústria do cinema  “Todo mundo é um exemplo”

O ator e comediante turco-alemão Tan Caglar é cadeirante – e pode ser visto, entre outros, na série de TV “In aller Freundschaft” (Com toda a amizade, das emissoras ARD/MDR).
O ator e comediante turco-alemão Tan Caglar é cadeirante – e pode ser visto, entre outros, na série de TV “In aller Freundschaft” (Com toda a amizade, das emissoras ARD/MDR). Foto (detalhe): © MDR/Saxonia Media/Rudolf Wernicke

A atriz, diretora e produtora Sheri Hagen luta por mais diversidade na indústria cinematográfica alemã. O que precisa mudar em frente e por trás das câmeras?

Sheri Hagen nasceu em 1968 em Lagos (Nigéria) e cresceu em Hamburgo. Como atriz, ela pode ser vista na televisão e no cinema, por exemplo, nos filmes “Das Leben der Anderen” (A vida dos outros), “Baal” ou na série policial “Tatort”. Em 2015, fundou a produtora “Equality Film”. Depois de “Auf den zweiten Blick” (À segunda vista) e “Fenster Blau” (Janela azul), Hagen está trabalhando em seu terceiro filme, “Billie”. Sheri Hagen nasceu em 1968 em Lagos (Nigéria) e cresceu em Hamburgo. Como atriz, ela pode ser vista na televisão e no cinema, por exemplo, nos filmes “Das Leben der Anderen” (A vida dos outros), “Baal” ou na série policial “Tatort”. Em 2015, fundou a produtora “Equality Film”. Depois de “Auf den zweiten Blick” (À segunda vista) e “Fenster Blau” (Janela azul), Hagen está trabalhando em seu terceiro filme, “Billie”. | Foto (detalhe): © picture alliance / dpa / Roland Popp A pesquisa “Diversidade no cinema” mostrou este ano que a discriminação é um grande problema na indústria cinematográfica alemã. Isso foi constatado em um questionário respondido online entre julho e outubro de 2020 por mais de 6 mil de pessoas do setor que exercem 440 profissões. O que a levou a participar da iniciativa que determinou o conteúdo do questionário?
 
Eu queria saber qual o real grau de diversidade em frente e por trás das câmeras. Se minha impressão de monotonia era enganosa, ou se os números finalmente provam que nosso cinema e televisão trabalham com exclusões.
 
Houve algo que a surpreendeu nos resultados?
 
O fato de 81% das mulheres sofrerem múltiplos abusos sexuais no contexto profissional, e de que mais de 70% das pessoas com histórico de migração se veem representadas de forma estereotipada. Isso confirma que nossos conteúdos são feitos apenas para um determinado tipo de público.
 
Alguma coisa mudou desde que a pesquisa foi publicada?
 
Ela provocou discussões em associações e instituições cinematográficas, agora só continua faltando a coragem de dar grandes passos e realmente implementar a diversidade no cinema. É necessário que os institutos de fomento ao cinema passem por uma desconstrução. As produções devem ser reforçadas financeiramente para que o acesso sem barreiras seja possível. O cinema precisa ser visto como um recurso educacional para combater a discriminação, ele deve oferecer exemplos para todo mundo e exibir as pessoas em sua diversidade.
 
Que papel o tema diversidade vem ocupando até hoje no fomento ao cinema?
 
Não tenho realmente certeza se a Alemanha deseja de fato mais diversidade. Os conteúdos não mudam quase nada, e também vejo poucas equipes diversas. Não vejo, por exemplo, quase nenhuma pessoa de pele escura em posições decisivas, nem pessoas portadoras de deficiência. Enquanto nada mudar atrás das câmeras e em termos de conteúdo, a diversidade no cinema continuará uma utopia.

Do cinema e televisão alemães para Hollywood: em 2014, o ator Murali Perumal atuou no filme “Caçada ao presidente”. Do cinema e televisão alemães para Hollywood: em 2014, o ator Murali Perumal atuou no filme “Caçada ao presidente”. | Foto (detalhe): © picture alliance/Eventpress/Eventpress Radke Em 2020, o Instituto de Fomento ao Cinema de Hamburgo e Schleswig-Holstein introduziu uma lista de checagem de diversidade. Depois disso, o projeto de seu filme “Billie” obteve um financiamento de 25 mil euros. Como foi sua experiência com a lista de checagem?
 
Estou muito contente com a existência dessa ferramenta útil de autochecagem. A lista de checagem motivou debates e abriu espaços, proporcionando oportunidades a pessoas que contam novas histórias. Só é uma pena que não sejam muitas as instituições de fomento que seguiram o exemplo. Muitas falam de mais diversidade, mas mantêm as velhas estruturas. Uma lista de checagem para pessoas criativas também não é suficiente, precisamos além disso de algo semelhante para quem toma as decisões nas emissoras.
 
Críticas à lista de checagem argumentam que ela restringe a liberdade artística.
 
Ouço isso constantemente. Mas o que se quer dizer com liberdade artística? Será que essa suposta liberdade artística não representa um apego às velhas estruturas de poder? Tenho que aguentar isso o tempo todo. Histórias em consonância com o sistema, que não correspondem à realidade. A lista de checagem de diversidade é uma tentativa que ousa algo novo. Diversidade significa mais possibilidades de narrativa, de histórias mais complexas, mas também de ser um reflexo da realidade das equipes por trás das câmeras – uma participação igualitária para todo mundo.
 
Que significado a diversidade deveria ter nos filmes?
 
Na verdade, nenhum. Deveria ser natural que todas as pessoas fossem vistas e ouvidas. Nossa sociedade é múltipla e diversa, nossa realidade é múltipla e diversa. Por que não também no cinema, na televisão e nas equipes de produção? Quando eu era criança, nunca me vi no cinema ou na televisão alemães, assim como minhas crianças também não se veem. Espero que minhas netas e meus netos possam se enxergar de maneira natural, sem estar numa situação de exposição, simplesmente de forma humana, sem uma marca de procedência.
Empenha-se há muito tempo por mais diversidade na indústria cinematográfica: a atriz Maria Furtwängler, em 2017, ao conceder uma entrevista sobre a representação dos gêneros no cinema e na televisão. Empenha-se há muito tempo por mais diversidade na indústria cinematográfica: a atriz Maria Furtwängler, em 2017, ao conceder uma entrevista sobre a representação dos gêneros no cinema e na televisão. | Foto (detalhe): © picture alliance/dpa-Zentralbild/ Martin Schutt A UFA – Universum Film AG – pretende representar melhor a diversidade. Houve a iniciativa #actout, e a emissora NDR introduziu um „inclusion rider“ no contrato ao produzir um programa da série policial Tatort. Na sua opinião, quais dessas estratégias fazem sentido?
 
Acho que todas elas são corretas e indispensáveis. O desequilíbrio é simplesmente grande demais, então cada iniciativa, cada conscientização promovida por agentes da mídia é importante.
 
Quais suas demandas em relação ao futuro da indústria cinematográfica alemã?
 
Demando uma quota de 50:50 em uma base interseccional. A adaptação dos padrões de diversidade do Instituto de Cinema Britânico (BFI Diversity Standards), treinamento de atenção plena e de intimidade nos sets de filmagem e nas produções, bem como filmes com acesso sem barreiras.
 
A diretora Sarah Blasskiewitz declara em relação ao racismo cotidiano que as pessoas atingidas podem indicar os problemas mas não oferecer as soluções. Como você vê isso?
 
De forma parecida. As organizações que defendem as diferentes pessoas não privilegiadas já oferecem soluções ou sugerem medidas. Mas elas não são aceitas, inclusive pela política. São demais as vezes em que os ataques racistas permanecem sem consequências. Só que nós – todas as pessoas – temos responsabilidade perante a sociedade, especialmente quem é responsável pelas decisões, não apenas as pessoas criativas. Todo mundo é um exemplo! 

Ficou conhecida na emissora musical VIVA e hoje é um rosto muito visto em séries policiais da TV e no cinema, entre outros, na comédia que se passa em Berlim Oriental “Sonnenallee” (Avenida do Sol): a atriz Minh-Khai Phan-Thi. Ficou conhecida na emissora musical VIVA e hoje é um rosto muito visto em séries policiais da TV e no cinema, entre outros, na comédia que se passa em Berlim Oriental “Sonnenallee” (Avenida do Sol): a atriz Minh-Khai Phan-Thi. | Foto (detalhe): © picture alliance/Eventpress/Eventpress Fuhr


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