Ecossistemas   Os recifes de coral: bastiões de resiliência

Os corais são muito importantes para a biodiversidade marinha. No entanto, o aquecimento dos oceanos é sua maior ameaça: um aumento de 1,5 grau Celsius significaria a perda de até 90% de todos os recifes de coral.
Os corais são muito importantes para a biodiversidade marinha. No entanto, o aquecimento dos oceanos é sua maior ameaça: um aumento de 1,5 grau Celsius significaria a perda de até 90% de todos os recifes de coral. Foto (detalhe): Daniela Dirscherl © picture alliance / WaterFrame

Os recifes de corais são um dos ecossistemas mais biodiversos do mundo em perigo de extinção. Os supercorais, estruturas inesperadamente deslocadas em função de alterações climáticas, poderiam representar uma nova esperança para sua sobrevivência.

Os recifes de corais são um dos ecossistemas mais ricos e biodiversos do mundo. Seu encanto, porém, não é apenas estético, mas também funcional, pois proporcionam múltiplos benefícios sociais, econômicos e ambientais às comunidades no seu entorno. Os corais ocupam menos de 1% da superfície total dos oceanos, mas abrigam 25% das espécies marinhas. Além disso, são essenciais para a proteção da costa contra a erosão e proporcionam às pessoas alimento e renda a partir do turismo e da pesca. Apesar de sua importância, os corais estão em risco devido às mudanças do clima local e ao estresse causado pela atividade antropogênica.

Os impactos se exacerbaram a uma tal magnitude que, mesmo que a meta do Acordo de Paris – que visa limitar em 1,5 grau Celsius o aquecimento global – seja cumprida, perderemos pelo menos 75% dos recifes. Com um aumento de 2 graus Celsius, os recifes das regiões tropicais e subtropicais do planeta desapareceriam quase completamente. Isso representa uma grande perda não apenas para as comunidades costeiras, mas para todo o mundo.

Sistemas em risco muito elevado

A maior evidência da deterioração desses animais curiosos é o branqueamento. Normalmente, os corais saudáveis são esverdeados ou marrons, devido às zooxantelas – algas fotossintéticas com as quais vivem em simbiose e das quais depende sua energia metabólica –,  mas, durante períodos prolongados de estresse, os corais as expulsam de seu sistema, o que expõe um tecido translúcido que permite ver o esqueleto esbranquiçado sobre o qual eles são construídos.

O estresse pode ser ocasionado pelo excesso de nutrientes, pela suspensão de sedimentos ou pelos impactos das mudanças climáticas, como o aumento da temperatura dos oceanos, a acidificação de suas águas ou eventos climáticos mais violentos.

Já é possível projetar as mudanças diante das quais esses ecossistemas se encontram. Por exemplo, em um período de quatro anos, entre o Quinto Informe de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2014 e o Relatório Especial do IPCC de 2018 sobre os Impactos do Aquecimento Global de 1,5 grau Celsius, os corais mudaram seu status de “sistemas de alto risco em caso de aumento de temperatura de 2,6 graus Celsius” para “sistemas de alto risco em caso de aumento de 1,5 graus Celsius”. Em termos práticos, isso se traduz na perda de algo entre 70 e 90% dos recifes de corais.

O futuro não parece promissor e o desafio para a preservação desses ecossistemas é enorme, pois as previsões apontam para um aumento ainda maior da temperatura do planeta.

Os supercorais, esperança de preservação?

No entanto, há esperança de salvação graças aos chamados supercorais, um termo que, segundo a bióloga marinha Emma Camp, se refere a organismos que exibem capacidade superior de sobrevivência em condições pouco favoráveis.  Os supercorais são espécies resilientes que migram para novos ecossistemas onde as condições ambientais, ainda que não sejam ideais para seu desenvolvimento, representam um oásis em um oceano aquecido.    

Uma pesquisa de 2019 conduzida por Emma Camp destaca a presença na Austrália das primeiras comunidades de corais nas lagoas de manguezais próximas à Grande Barreira de Corais, exatamente nas Ilhas Woody e na Ilha Howick. Antes das mudanças desencadeadas pelas mudanças climáticas, corais e manguezais não compartilhavam o mesmo hábitat. Agora estamos testemunhando mudanças na composição dos ecossistemas provocadas pela migração de espécies em busca de condições mais toleráveis.

É difícil vislumbrar que repercussões isso terá no futuro. Mesmo assim, o fato de haver áreas que fornecem abrigo para esses inesperados “deslocados climáticos” pode representar novas linhas de pesquisa para a preservação de corais.

O Sistema Mesoamericano de Recifes

Há uma região compartilhada pelas costas de Belize, Honduras, Guatemala e México na qual se localiza o segundo maior recife do mundo: o Sistema Mesoamericano de Recifes. A virtude desse sistema, além de sua extensão, é que é uma reserva biológica onde inúmeras espécies coexistem, algumas até em perigo de extinção. Além disso, as comunidades costeiras do recife mesoamericano dependem dele para sua subsistência, economia e modo de vida.

Apesar de sua importância, hoje mais da metade dos recifes estão em um estado deteriorado.  Os efeitos vêm principalmente de interferências humanas diretas, como pesca predatória, agricultura e desenvolvimento costeiro e turístico.

Para contrabalançar esses impactos, existem novos canteiros de corais que buscam construir resiliência, e também diversas iniciativas de mitigação e adaptação aos desafios emergentes, o que inclui exercícios de sustentabilidade para o turismo e as práticas econômicas.

A humanidade está diante de um enorme desafio para a preservação e, apesar das previsões pessimistas, uma constante de vida é que ela tenta prevalecer de uma forma ou de outra. Portanto, não devemos perder de vista os corais, bastiões de resiliência.

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