Exposição Ecos do Atlântico Sul

Ecos do Atlântico Sul Ayrson Heráclito

sáb, 10.11.2018 -
sáb, 08.12.2018

Museu da Escravidão e Liberdade

Vídeos, fotografias, objetos, serigrafias, esculturas sonoras, cartazes e performances de um grupo internacional de 14 artistas ocupam o Museu da Escravidão e Liberdade, na Gamboa

Vídeos, fotografias, objetos, serigrafias, esculturas sonoras, cartazes e performances de um grupo internacional de 14 artistas ocupam o Museu da Escravidão e Liberdade (Centro Cultural José Bonifácio), na Gamboa, de 10 de novembro a 08 de dezembro. A Exposição Ecos do Atlântico Sul chega ao Rio após passagens por São Paulo e Salvador, com apoio do Goethe-Institut. Os trabalhos trazem à tona as relações complexas entre os países que compõem o Atlântico Sul.

Que tipo de posição a Europa vai assumir frente à África e à América do Sul? Essa é uma das perguntas que a exposição coletiva busca esclarecer nos trabalhos. Cada artista, traz uma espécie de "história alternativa" que comenta e desafia a historiografia coletiva. Em seus trabalhos, os artistas examinam trocas, investigam relações, diluem localizações geográficas, destacando suas ressonâncias no tempo presente. As perspectivas individuais implícitas em imagens, sonoridades, documentos, vestígios, instrumentos e peças ecoam as histórias coloniais, as diásporas, migrações globais e processos transculturais.

Os trabalhos dessa exposição, cada um à sua maneira, participam do processo da (des/re)construção de narrativas capazes de transformar nossa percepção acerca dos desenvolvimentos sociais, políticos, econômicos e culturais do Atlântico Sul.

Akinbode Akinbiyi participa com um conjunto de  seis imagens de seu trabalho “Passageways, Narratives Involuntary, e o Sound of Crowded Spaces" exibido pela primeira vez na Documenta 14 em Atenas e Kassel. A sequência de imagens produzidas em Kassel, Lagos e Osogbo é exibida em uma grade com a qual o artista cria uma cadência visual, concebida especificamente para esta exposição.
 
Ana Hupe apresenta uma pesquisa, desenvolvida durante sua residência no Vila Sul, sobre os retornados, um recorte de um arquivo que aborda a fluidez dos espaços e o desenvolvimento das identidades entre Brasil e Nigéria, debruçando-se sobre duas personagens, uma mulher africana imigrante de Lagos que vive em Salvador, Bahia, e uma brasileira, que emigrou para a mesma cidade na Nigéria. As duas histórias são espelhadas, uma reverberando na outra.
 
Anita Eckman expõe objetos relacionados a performance “Tupi-Valongo/Cemitério dos Pretos Novos e Velhos Índios” que retomam a tecnologia de carimbos cerâmicos, desenvolvida pelos povos Sambaquieiros em um ambiente criado com projeções de imagens do Cemitério dos Pretos Novos do Rio de Janeiro. São objetos e elementos com os quais podemos revisitar nossos mitos originários e refletir sobre os conflitos inerentes a formação afro-indígena brasileira.
 
“Trabuco” é o nome do trabalho realizado por Antônio Társis a partir de sua deriva pelas ruas do centro antigo da cidade de Salvador, onde encontra cápsulas de bala usadas. Utiliza estas cápsulas acopladas a tubos de ensaio, pólvora e outros materiais utilizados em armamentos antigos, pertencentes do passado colonial. Passado e presente fazem parte da composição de objetos que expõem a violência colonial ainda presente em Salvador.
 
Ayrson Heráclito participa com o vídeo díptico “O Sacudimento: a reunião das Margens Atlânticas”, exibido na 57ª Bienal de Veneza. Neste trabalho, o artista exibe duas gravações de rituais de limpeza dos espíritos oriundos do período da escravidão realizadas em ações performáticas na Maison des Esclaves, na ilha de Gorée, Senegal e na Casa da Torre de Garcia d'Ávila, em Mata de São João, Bahia.
 
Camila Sposati exibe “Lundu”, uma instalação na qual discute questões acerca do corpo, espaço, negociações e relações coloniais a partir de ilustrações de Rugendas de 1835. Por meio de conversas com bailarinos, músicos e teóricos revela olhares sobre as imagens coloniais e seus efeitos. Além disso, mostra como os instrumentos e tradições musicais presentes nas imagens coloniais permeiam nossas relações e ações atuais.
 
Carol Barreto participa com um vídeo relacionado ao seu trabalho “Coleção Asè”, que relaciona moda e ativismo político. Em destaque, há uma peça de confecção artesanal, que remete a história familiar e nasce da rica tradição da técnica têxtil do Nordeste do Brasil transformada em ferramenta de luta antirracista.
 
A partir das experiências com a performance “Salve Exú Motoboy”, um processo artístico que envolve moda, fotografia, vídeos e performance de rua onde a figura contemporânea do motoboy é cruzada com os de arquétipos de religiões de matrizes africanas, Cássio Bomfim expõe as fotos registros da performance participativa com o acervo de sua coleção onde apresenta as possibilidades de "incorporação imagética".
 
Na sua instalação sonora  “Trading Places”, Emeka Ogboh combina gravações de diferentes mercados dentro e ao redor de Lagos, importando a soundscape da vibrante metrópole africana, capital económica, comercial, de entretenimento e cultural da Nigéria para a Bahia. Na Praça do Cacau, estes sons se transformam em um concerto ao ar livre, permeando e cruzando as sonoridades da cidade de Salvador.
 
Há a participação de Isaac Julien, desenvolve seu trabalho entre o cinema e instalações audiovisuais. Em “Territories” o artista explora as relações de gênero, raça e sexualidade que atravessam o cotidiano do negro na Grã-Bretanha dos anos 1980, mais especificamente no carnaval de Nottingham e nos conflitos raciais de Nothing Hill. A importância desse trabalho reside, principalmente, em perceber a festa como um espaço de disputas políticas, um tema caro à história cultural do Brasil.
 
Jota Mombaça expõe uma bandeira/vestígio da performance “A gente combinamos de não morrer”, realizada em Salvador. utilizando o título dado por Conceição Evaristo a um de seus livros como referência para a construção de sua ação, propondo práticas e rituais como forma de sobrevivência à necropolítica, conceituada pelo autor sul-africano Achille Mbembe.
 
Sarojini Lewis exibe uma série de fotografias e textos do diário de sua personagem imaginária criada durante sua estadia na América do Sul (2012-2014) no seu trabalho “Fernanda Romero: Searching for Madame Jeanette”, que aborda a temática da migração, apresentando o mundo a partir de um olhar fictício e autobiográfico.
 
Tatewaki Nio apresenta um recorte de quatro fotografias de uma nova série intitulada “As Pegadas dos Retornados”, produzida na República do Benim e Nigéria. Nela, o artista investe um olhar sobre edificações como mesquitas, unidades habitacionais, edifícios comerciais em Iorubalândia, com a influência do estilo arquitetônico trazido pelos ex-escravizados do Brasil.
 
Um outro trabalho “Cayendo a la Periferia”, é uma colaboração de Ana Milena Garzón (Colômbia), Yolanda Chois (Colômbia) e Audu Salisu (Gana) os quais atuam em uma rede de comunicação interinstitucional do sul global que pesquisa os efeitos das narrativas coloniais. Em uma série de cartazes reúnem frases de conversas sobre o tema da migração contemporânea, que estarão expostas no lado externo do Centro José Bonifácio.
 
A exposição almeja que seus ecos contribuam também com a revisão das dicotomias presentes nas narrativas históricas, a democratização e a decolonização das relações no Brasil e entre as regiões do Atlântico Sul.

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