Séries alemãs  Biohackers

 © Netflix

A narrativa de lançamento de “Biohackers”, mais uma produção “made in Germany” da Netflix, é tão contemporânea quanto explosiva. Originalmente anunciada para março, a produção foi adiada para a segunda metade do ano quando o coronavírus chegou ao “Ocidente”. O motivo: em tempos de pandemia, a série poderia desencadear ansiedade no público. Agora “Biohackers” já está há algum tempo no mundo, a Covid continua tão presente quanto antes, mas o escândalo não aconteceu. Um mau sinal? Talvez. Vamos ver isso de perto.

Problemas no paraíso das pesquisas

O cenário de Biohackers é a belíssima Freiburg, uma cidade onde nada pode dar errado. Um lugar onde se reflete sobre o futuro. Uma pequena grande cidade à sombra de sua universidade, pelo menos quando se vê de fora. Uma cidade onde hoje a Câmara Municipal é dominada pelo Partido Verde, quase que por tradição. Apesar disso, o prefeito é um político protestante apartidário chamado Martin Werner Walter Horn. Em outras palavras: não dá para ser mais “bom moço” do que isso. Enquanto “Dark” se passa em uma Alemanha sombria – florestas escuras, usinas atômicas, chuva permanente –, Biohackers acontece em uma espécie de paraíso antigo alemão.
Entretanto, Biohackers começa em um ICE, o trem de alta velocidade alemão, onde acontece uma catástrofe. Tomado por uma mistura de ciúmes e carreirismo, Jasper (Adrian Julius Tillmann), um estudante de Biologia, solta ali pernilongos que carregam em si um vírus altamente contagioso, apesar de seu melhor amigo Niklas (Thomas Prenn) e sua paquera Mia (Luna Wedler) também estarem no trem. Corte. Agora vemos como uma médica portando equipamento de proteção individual (Zeynep Bozbay) embarca no trem – além de Mia, parece que ninguém sobreviveu ao atentado no ICE. E é assim que tudo começa.

CRISPR na república de estudantes

A história prévia do atentado provocado por um comportado estudante de Biologia é contada em seguida através de flashbacks – e tudo que acontece depois se revela posteriormente bem mais previsível do que se poderia ter desconfiado após o início dramático. Freiburg é colocada a princípio como o lar cheio de clichês de algumas personagens caricaturais. No primeiro episódio, conhecemos ainda as pessoas que moram com Mia em sua república de estudantes. Entre elas está o maluco que utiliza seu corpo como campo de experimentos, tentando com eles obter fama no Instagram. Há uma personagem do sexo feminino que faz sexo demais com um monte de caras diferentes – mas que, fora isso, não parece ter muito o que fazer. E há a pessoa do sexo feminino que aparentemente não faz sexo, mas, em compensação, é super inteligente. Até aqui tudo muito simples e nada contemporâneo. Nas cenas da república e nas que documentam a vida universitária, Biohackers tenta claramente se apresentar como uma sitcom com o máximo possível de trapalhadas. Tudo bem fazer isso – desde que haja uma continuidade.
 

Mia no laboratório

Mas, na verdade, a série gira em torno de Mia, que, como é mostrado em mais flashbacks, passou por algo horrível em sua infância, fato que anseia por esclarecer. A moça inteligente, que vai se tornando manipuladora por necessidade, toma a Professora Tanja Lorenz como responsável por seu destino. Desde o início, Lorenz é retratada como uma carreirista sem escrúpulos – um veredicto precoce que virá a se confirmar ao longo da série. Lorenz é representada de forma segura e convincente por Jessica Schwarz – e a luta entre ela e Mia é, afinal, o lubrificante que prende a atenção de quem está assistindo à série, apesar de todos os pontos fracos.

No cerne de “Biohackers” estão as modificações genéticas e suas consequências. A série questiona a ética e a moral em experimentos científicos. Quão longe um cientista pode ir para salvar a humanidade? E quais são os limites claros que não devem ser ultrapassados?

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No entanto, o sentimento constante é de que se está assistindo a duas séries que não combinam direito. Uma é o pastelão estudantil, sentimentos inclusive, a outra, o drama que acontece entre a professora e sua aluna inteligente – e como a impressão é a de quem criou a série escolheu estilos narrativos completamente diferentes para cada metade, nunca se entra realmente na história. Há, porém, uma pontinha de esperança para a já confirmada segunda temporada: o final da primeira. Afinal, vírus cultivados em laboratórios e indústrias farmacêuticas ávidas por lucros? Essa é a matéria prima com a qual é possível criar um suspense controverso e catastrófico, não é? Uma série que aborde a credulidade de grande parte da população alemã a respeito das teorias da conspiração, que quebre seu encanto, e com isso, crie tensão. Já seria interessante.
Netflix
Showrunner: Christian Ditter
Direção: Christian Ditter (episódios 1-3), Tim Trachte (episódios 4-6)
Produção executiva: Uli Putz e Jakob Claussen, Christian Ditter, Jens Oberwetter e Jake Coburn
Autoria: Christian Ditter (episódios 1-3), Nikolaus Schulz-Dornburg, Tanja Bubbel und Johanna Thalmann (episódios 4-6)
Elenco: Luna Wedler, Jessica Schwarz, Adrian Julius Tillmann, Caro Cult, Thomas Prenn, Sebastian Jakob Doppelbauer, Benno Fürmann, Jing Xiang e mais
Fotografia: Jakob Wiessner (episódios 1-3), Fabian Rösler (episódios 4-6)
Produção: Claussen + Putz Filmproduktion GmbH, com apoio do Fundo de Incentivo ao Cinema Alemão e Fundo de Incentivo ao Cinema e à Televisão da Baviera

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