Séries alemãs  Sinfonia de uma metrópole em 28 episódios: “Babylon Berlin”

Volker Bruch como detetive Gereon Rath em “Babylon Berlin”
Volker Bruch como detetive Gereon Rath em “Babylon Berlin” © Beta Films

No atual boom de dramas da TV alemã, nenhuma série tem atraído mais críticas positivas que Babylon Berlin. Baseada nos romances best-sellers de Volker Kutscher, a primeira temporada acompanha um detetive de polícia pela vida noturna e pelas turbulências políticas na Berlim da República de Weimar. O orçamento generoso da série é facilmente reconhecível na tela, mas os elogios da crítica vão além dos extravagantes valores de produção.

No atual renascimento sem precedentes das séries de TV em língua alemã, Babylon Berlin é a atração principal – um sucesso de audiência na própria Alemanha e no Reino Unido. A série está sendo exibida em mais de 90 outros países, incluindo a Índia e nações africanas – um alcance inédito para uma série alemã. Enquanto a Netflix nos EUA não divulga números de visualização, a série se tornou um sucesso para o serviço de streaming graças a uma onda constante de críticas positivas em veículos como The New York Times, Vogue, The New Yorker, NPR e The New York Review of Books, entre outros.

Como um drama policial de época em versão legendada cativa tantos espectadores? A resposta é que, nas mãos dos roteiristas-diretores Tom Tykwer, Achim von Borries e Hendrik Handloegten, a “divina decadência” (para tomar emprestada uma frase de Sally Bowles) é feita para ser assistida em maratona.

venha para o cabaré, meu velho AMIGO

Os títulos de abertura de Babylon Berlin são lindos, mas sinistros – uma porta de entrada perfeita para a recriação inebriante da República de Weimar. Em 1929 o detetive de polícia Gereon Rath (Volker Bruch), o melhor de Colônia, transfere-se para a polícia de costumes de Berlim, a fim de rastrear um pornógrafo que está chantageando políticos. Rath rapidamente aprende que ser um policial de costumes na Berlim da era Weimar é das tarefas mais ingratas: uma década de desespero econômico e agitação política, que alimentou uma cultura de amoralidade descarada. Durante o dia, manifestantes de esquerda entram em confronto com a polícia e com paramilitares bem armados nas ruas. À noite, a cidade é eletrizante, enquanto hedonistas lotam os clubes em busca das mais novas sensações. Essa Berlim irresponsavelmente moderna é, ao mesmo tempo, intoxicante e sóbria.

„Zu Asche, Zu Staub“
Escrita e composta por Nikko Weidemann, Mario Kamien e Tom Tykwer.
Produzida por Nikko Weidemann e Mario Kamien, interpretada por Severija.
Copyright: BMG Music, https://BMG.lnk.to/BabylonBerlinID

Quando Rath reconhece um corpo no necrotério como sendo o de um russo que claramente havia sido torturado, ele conclui que seus chefes estão estranhamente desinteressados no caso. O falecido provará ser apenas a primeira vítima de uma conspiração que envolve o embaixador de Stalin, uma diva de boate transgressora de gênero e um conluio de aristocratas e generais prussianos.

O único raio de luz para Rath neste labirinto urbano é a datilógrafa de polícia Charlotte Ritter, também conhecida como Lotte (Liv Lisa Fries), uma jovem cujas maneiras encantadoras mascara uma ambição radical de se tornar a primeira detetive mulher de homicídios da cidade. A destemida Lotte vem da genuína classe trabalhadora de Berlim. A pobreza terrível de sua família a leva a ganhar dinheiro como for possível, mesmo que isso signifique levar uma vida dupla – às sextas, de nove às cinco, ela é a garota faz-tudo na repartição do detetive e, depois da meia-noite, ela presta serviços menos respeitáveis nos clubes de sexo underground da cidade. O conhecimento íntimo que Lotte tem sobre a Berlim que surge após o anoitecer faz dela a parceira ideal nas investigações de Rath: ela o leva aos locais que ele nunca poderia encontrar por conta própria.

não é uma ópera dos três vinténs

A sofisticada divulgação da série Babylon Berlin concentrou-se em seu orçamento. Com 40 milhões de euros, esta não é apenas a série de língua alemã mais cara já realizada, mas supostamente a série de língua não inglesa mais cara do mundo. Ponto.

É bom saber que 40 milhões de euros ainda valem o inventimento feito. Babylon Berlin é espetacular na tela – os produtores claramente não pouparam nenhuma despesa ou esforço na recriação da Berlim de 1929, como deixam claro os cenários e figurinos luxuosos. O destaque é uma enorme boate art déco, a Moka Efti (baseada em um estabelecimento real, o Berghain da época), repleta de figurantes em roupas extravagantes.

Também são dignas de nota as cenas externas que mostram bairros inteiros da cidade sem efeitos perceptíveis de computação gráfica. Cerca de 70% da série foi rodada em locação durante uma filmagem de 185 dias, e tudo parece autêntico. A atmosfera de época é tão densa quanto os sotaques locais. Não é à toa que o jornal Berliner Zeitung fez uma crítica entusiasmada de Babylon Berlin com a memorável manchete: “A grande prostituta em sua melhor forma”. No entanto, os criadores da série sabem como fazer essa Berlim parecer viva e não um museu cuja curadoria quer retratar o passado. 

Em algum lugar, FRITZ LANG ESTÁ SORRINDO

Babylon Berlin coloca o público no centro de um turbilhão de agitação cultural e política. É um retrato da Alemanha do final dos anos 1920 com algumas notas estranhamente atuais, mas a série não se limita aos prazeres da ficção: suspense crescente, situações limite e um tiroteio apoteótico em um luxuoso restaurante art déco que deixaria Michael Mann orgulhoso. Ao longo da série, a arte de filmar é mais inventiva que em muitos longas de ficção.

Um conhecimento superficial da história alemã entre as guerras mundiais é útil, mas não essencial. Saber que o nazismo logo tomará a Alemanha traz uma tensão considerável à série, mas os diretores e roteiristas têm o cuidado de não adotar uma abordagem determinista da história. Na primavera de 1929, os nazistas eram apenas uma facção entre muitas que disputavam a atenção em um cenário político-cultural repleto de extremistas e malucos (na “Berlim Vermelha”, o nazismo lutou por votos nas eleições de 1928). Sendo assim, os nazistas permanecem fora das telas de Babylon Berlin durante a maior parte dos 16 episódios. Quando finalmente aparecem, o momento é inquietante e isso só aumenta as apostas pela continuação de Babylon Berlin.
 

 © Netflix, X-Filme

A primeira e a segunda temporadas, de oito episódios cada, foram escritas como uma história completa (cobrindo o primeiro romance da série de livros de Kutscher) e filmadas como uma produção contínua. Elas estrearam como um bloco ininterrupto, numerado de 1 a 16, e foram transmitidas em todo o mundo desta forma. Além disso, todos os 16 episódios de ambas as temporadas foram disponibilizados simultaneamente na Netflix. O segundo bloco de 12 episódios é, portanto, oficialmente conhecido como a 3ª temporada. Os três primeiros episódios de Babylon Berlin foram vistos por uma média de 7,8 milhões de espectadores na emissora alemã ARD em 2019, alcançando uma participação de 24,5% de audiência e atingindo um pico de 8,5 milhões de espectadores. Na Sky, a série ostentou as melhores audiências de todos os tempos para uma série de língua não inglesa só perdendo, no geral, para a sétima temporada de Game of Thrones.

>> Variety Até o final de 2019, Babylon Berlin quebrou a marca de 100 territórios da distribuidora Beta Film. Entre os últimos contratos de distribuição, estão a maior rede de TV por assinatura da África, a M-Net, e a chinesa Lemon Tree, além de muitas outras redes internacionais, entre as quais Netflix, HBO Europe e Viasat, que exibiram a série – o que marca um sucesso sem precedentes para uma produção alemã. A primeira temporada de Babylon Berlin também ganhou uma pontuação de 100% de crítica no site Rotten Tomatoes, um nível raro de aprovação que, vale ressaltar, também foi alcançado pela segunda temporada de DARK e por DEUTSCHLAND 86, da Netflix alemã.

A terceira temporada começou a ser filmada no final de 2018, contando com o elenco principal e com o retorno do trio criativo de Tykwer, von Borries e Handloegten. As filmagens foram concluídas em maio de 2019 e os direitos de transmissão da terceira temporada vendidos para 35 países antes mesmo da conclusão dos trabalhos. Em 16 de dezembro de 2019, a terceira temporada da série teve sua estreia mundial no cinema Zoo Palast, na capital alemã, e começou a ser transmitida em 24 de janeiro de 2020, inicialmente na Sky 1. Nos EUA, a terceira temporada foi lançada em 1º de março de 2020, com todos os 12 episódios disponíveis de uma só vez na Netflix, e o burburinho sobre uma possível quarta temporada também já está aumentando – notícias que nos fazem querer levantar um copo de cerveja Berliner Weisse em comemoração.

rastreando os anos 1920 em Berlim

No site  visitBerlin.de os visitantes podem encontrar informações sobre os bastidores da série e mergulhar no estilo de vida dos dourados anos 1920. Se você estiver à procura do espírito da República de Weimar na Berlim de hoje, encontrará muitas dicas nesse site: visitas guiadas, destaques da arquitetura, como os bairros modernistas de Berlim e o Arquivo Bauhaus, datas de festas temáticas dos anos 1920, tais como a  Bohème Sauvage, evento de swing (dança) no salão Clärchens Ballhaus  ou o Berlin Burlesque Festival que acontece todo ano em novembro.
visitberlin.de

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