Cosmopercepções da floresta

As florestas não são apenas biomas ou recursos naturais. São territórios de memória, conhecimento e imaginação que, há milênios, se entrelaçam à ação humana. O projeto cosmopercepções da floresta nasce desse entendimento: de que a floresta é, ao mesmo tempo, lugar material e simbólico, onde se produzem mundos possíveis.

Zeichnung s/w Wald - Rio Iratapuru, Amapá © Edu Simões

Sobre o Projeto

A iniciativa parte de experiências em territórios indígenas e tradicionais da América do Sul e da Europa, unindo artistas, pesquisadores e comunidades em processos que buscam regenerar relações entre espécies humanas e não humanas. O caminho é tecido por narrativas artísticas, científicas e ancestrais, em diálogo constante, com a intenção de inspirar novos modos de vida e influenciar debates globais em torno da justiça climática.

Estamos em Belém na COP 30. Conheça nossas ações.
Este é um projeto de excelência do Goethe-Institut Rio de Janeiro, realizado em parceria com as unidades de São Paulo, Colômbia, Finlândia e Munique.
Com o termo "cosmopercepções", seguimos a filósofa africana Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, que criou o conceito para distinguir uma lógica cultural ocidental de "cosmovisão", que privilegia o visual, dos sistemas culturais que enfatizam que é de corpo inteiro que percebemos e integramos a teia viva das florestas. Neste projeto, o conceito de cosmopercepções ressoa a noção de que é preciso, como apontam Carlos Papa e Cristine Takuá, aprender a ler com todos os sentidos os códigos dos seres que habitam as florestas - humanos e não humanos - como estratégia para melhor conviver com e de abordar as histórias das florestas.

Residências

Entre 2024 e 2025, residências vêm sendo realizadas em diferentes territórios – da Amazônia e da Mata Atlântica às florestas boreais no norte da Europa e aos museus na Alemanha que guardam coleções dos povos indígenas do Brasil. Em cada lugar, as comunidades anfitriãs definem temas, métodos e formas de trabalho, garantindo que o conhecimento emerja das próprias cosmopercepções locais.

Nesses encontros, arte e ciência caminham juntas: de pesquisas sobre biodiversidade e mudanças climáticas às criações coletivas que evocam justiça climática, economias regenerativas e rupturas coloniais.

Os frutos dessas residências ganham corpo em uma mostra durante a COP30, na Galeria Benedito Nunes, no Centro de Belém, onde obras e processos são compartilhados com o público local e internacional.
Conheça nossas ações em Belém.  Saiba mais sobre as residências:
  • Museu Fünf Kontinente, Munique, e Nantesbuch (Alemanha)
A residência de 2024 propõe novos modelos de cooperação entre museus, comunidades indígenas, artistas e cientistas, com foco na revisão crítica das coleções brasileiras de Von Martius e Spix nos museus da Alemanha. Formadas entre 1817 e 1820, essas coleções seguem como referência científica sobre a biodiversidade amazônica e são estratégicas para que, a partir de sua reinterpretação, as cosmovisões indígenas sejam incorporadas ao manejo territorial e à salvaguarda do patrimônio imaterial. Participam desta residência o professor doutor em Antropologia na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), João Paulo Lima Barreto, fundador do Bahserikowi-Centro de Medicina Indígena, junto à curadora e artista Anita Ekman.

Em parceria com o historiador Freg J. Stokes, do Max Planck Institute of Geoanthropology (Jena), é realizada, na Fundação Stiftung Kunst und Natur (Nantesbuch, Alemanha), a produção da série Forest Histories, com o episódio de animação “Resistence in South América”, sobre os 500 anos de desmatamento e resistência indígena. O trabalho também conta com a colaboração de Diego Akel.
  • Gáregasnjárga, Sápmi (Finlândia)
Encontro entre as artistas Renata Tupinambá e Sunná Máret, dedicado à pesquisa de sons e musicalidades de seus territórios. O diálogo entre a tradição Sámi e Tupinambá abre caminhos para uma cartografia sonora compartilhada das florestas boreais e tropicais.
  • Ateliê Arte Mangue Marajó, Pará (Brasil)
Desenvolvimento de um projeto de salvaguarda do patrimônio cultural do Marajó e da cerâmica marajoara, realizado pelos ceramistas Cilene Andrade e Ronaldo Guedes. A residência envolve práticas coletivas de salvaguarda da cultura do carimbó e da cerâmica, buscando o fortalecimento da AMPAC no Bairro do Pacoval em Soure.
  • Aldeia Rio Silveira, São Paulo (Brasil)
Construção de uma “Opy” - Casa de Reza Guarani Mbya e de Cura - dentro da Mata Atlântica. A residência, com participação de mais de 30 pessoas dos povos Guarani e Maxacali, resulta em trocas intensas e produção de arte coletiva sobre as cosmovisões dos povos indígenas da Nhe´ery (Mata Atlântica). Realizada com Cristine Takuã e Carlos Papá, no âmbito de ações de sua Escola Viva, a residência reune diferentes colaboradores do projeto cosmopercepções da floresta, como Aimema, Anita Ekman e Freg Stokes, além dos curadores Sandra Benites e Rodrigo Duarte e os artistas Brisa Flow e Ian Wapichana.
  • La Chorrera, Amazônia Colombiana
Preparativos intergeracionais na comunidade Uitoto e construção da maloca, espaço comunitário que simboliza a memória, a espiritualidade e a resistência dos povos Uitoto, como primeiro local para uma residência artística realizada pelo artista Aimema Uai.

Movimentos transversais

O projeto não se limita às residências: ele pulsa em diferentes espaços, tempos e formatos. Entre 2024 e 2025, uma série de iniciativas vem se somando à trajetória, criando momentos de encontro, reflexão e celebração:
  • REPARAR * RECONECTAR * REMATRIAR 2025, Rio de Janeiro (Brasil)
Encontro transterritorial para estratégias de restituição, em novembro de 2025, no Rio de Janeiro. Com curadoria de Guanabara Pyranga (Renata Tupinambá, Nana Orlandi e Lucas Canavarro) e Nathalia Grilo e iniciado pelo programa franco-alemão Juntes na Cultura (parceria entre o Goethe-Institut Rio de Janeiro e o Consulado da França no Rio de Janeiro), o evento é realizado nos dias 3, 4 e 5 de novembro de 2025, no Prédio Docas André Rebouças, na Pequena África, gerido pela Fundação Palmares. O encontro discute práticas de rematriação, que não se limitam ao retorno físico de objetos, mas se afirmam como gesto de reparação contínua. A programação inclui performances, rodas de conversa, oficinas e caminhadas sonoras na Pequena África, para trocar saberes localizados entre comunidades originárias, afro-brasileiras e internacionais.
  • SEMANA DA AMAZÔNIA 2025, Berlim (Alemanha)
Realização, em parceria com a Embaixada do Brasil em Berlim, da exposição A Terra é o Útero do Tempo, em homenagem ao arqueólogo indígena Carlos Augusto da Silva (“Tijolo”), apresentando obras de coletivos, como AMITIKATXI e Awaete, do coletivo Constelar Ancestral, além de fotografias e performances que repensam o legado colonial nos acervos europeus.

A conferência “Arqueologia e cosmopercepções da floresta”, realizada em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e com apoio do Projeto Amazônia Revelada e da Catedra Martius, aborda as descobertas arqueológicas recentes na Floresta Amazônica, viabilizadas pela aplicação de tecnologias de ponta em diálogo com os saberes tradicionais dos povos originários. Além disso, apresenta o trabalho de mapeamento de coleções arqueológicas e etnográficas, revelando conexões profundas entre território, memória e cosmologias.

O evento contou ainda com o apoio Institut für Auslandsbeziehungen (ifa) para a realização de uma performance musical de Patrick Angello, que compôs a trilha sonora do segundo filme da série Forest Histories, com o filme “Cosmopolítica da Floresta”. Esse trabalho é realizado em parceria com João Paulo Lima Barreto, Anita Ekman, Ana Matyhas, João Vitor Campos Silva (Instituto Juruá) e com o apoio da Cinemateca Brasileira.
  • FESTIVAL GREEN CULTURE 2025, Essen (Alemanha)
Participação de Marcele Oliveira, Presidency Youth Climate Champion da COP30, representando juventudes periféricas e suas visões transformadoras e soluções baseadas na cultura pela justiça climática.
  • ATLAS BRASILIENSIS 2025, Munique (Alemanha) e Manaus (Brasil)
O projeto “Atlas Brasiliensis – A Counter-Narrative of the Rainforests” questiona o imaginário colonial sobre a Floresta Amazônica e seus habitantes humanos e não humanos, moldado por expedições alemãs nos séculos XIX e XX. Essas narrativas persistem por meio das coleções mantidas em museus alemães.
Criado ao longo de 2025 na Oficina de Litografia da Münchner Künstlerhaus-Stiftung, na Alemanha, e no Brasil, na cidades de Manaus (Amazonas), no Bahserikowi – Centro de Medicina Indígena, e no MUSA – Museu da Amazônia, o Atlas conta com a coordenação de Anita Ekman, Dr. João Paulo Lima Barreto (Tukano), Ivan Barreto (Tukano) e Frauke Zabel, e com a participação de Freg J. Stokes, do Max Planck Institute of Geoanthropology, e Laura Kemmer, da Cátedra Martius – Alemanha-Brasil de Humanidades e Sustentabilidade.
  • MITsp 2025, São Paulo (Brasil)
Como parte do festival de teatro MITsp2025, a performance “cosmopercepções da floresta” é apresentada no Centro Cultural São Paulo, reunindo artistas indígenas como Sandra Nanayna, Larissa Duarte, Renata Tupinambá e Sunná Máret, além de Anita Ekman e Studio Curva, sendo um convite a imaginar mundos matriarcais fundados no cuidado e na troca.
  • FESTIVAL DE CINEMA INDÍGENA SKABMAGOVAT 2025, Sapmi (Finlândia)
A mostra conta com a participação do cineasta Carlos Papa Guarani e Cristine Takuã, que apresentaram seu filme e participaram de palestras com outros cineastas indígenas. O evento foi realizado em Sapmi, na Finlândia.
  • CAMPUS ANTROPOCENO 2024, Rio de Janeiro (Brasil)
Diálogo entre ciência, arte e ativismo, em oficinas, palestras e nas exposições Ecologias da Confiança, na ESDI, e A Terra é o Útero do Tempo, na Casa Artistas Latinas, com curadoria de Anita Ekman e Cristine Takuã. A mostra apresentou pela primeira vez no Brasil os processos colaborativos de criação em arte contemporânea impulsionados pelas curadoras, junto a uma rede de colaboradores - em especial os coletivos formados por mulheres indígenas que vivem e lutam em suas comunidades para, por meio da arte, manter viva a memória do corpo-território das Florestas Tropicais na América do Sul.
  • Pesquisa sobre a Floresta Boreal 2024, Sápmi (Finlândia)
Visita e pesquisa do cientista e historiador Freg Stokes, do Instituto Max-Planck de Geoantropologia, em Anár, Sápmi, em colaboração com Sunná Máret, resultando em um mapeamento florestal.
  • Grupo de Estudos Online 2024–2025 (Remoto)
Série de encontros mensais no Zoom, com tradução simultânea, convidadas externas e protagonistas dos territórios. Espaços de troca de textos, filmes, obras de arte e experiências, que funcionam como respiros no cotidiano da produção e como exercícios de transferência de conhecimento. Se quiser participar, envie e-mail para astrid.kusser@goethe.de

Publicação

Parte dos conteúdos criados ao longo dos últimos dois anos está reunida em um especial da Revista Humboldt, ampliando a circulação dessas vozes e saberes para diferentes públicos.  

Participantes

Contato