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Há muitos anos que tanto Portugal como a Alemanha abandonaram a monarquia, trocando-a por um sistema político republicano. No entanto, não deixa de ser curiosa e espantosa a quantidade de casamentos reais celebrados entre os dois países que, ainda para mais, nunca foram aliados políticos oficiais. Foram nada menos do que 11 os príncipes e as princesas de nacionalidade alemã que desposaram monarcas portugueses. Tudo começou em 1518, quando D. Leonor de Áustria se casou com D. Manuel I e só terminou em 1913, ano em que D. Manuel II, que então já não reinava e vivia no exílio, contraiu matrimónio com D. Augusta Victória de Hohenzollern-Sigmaringen. Pelo meio, D. Pedro IV e D. Maria II chegaram mesmo a ter dois cônjuges alemães cada um. Embora em menor quantidade, o caminho inverso também aconteceu, em duas ocasiões. As infantas portuguesas D. Leonor e D. Isabel desposaram, respectivamente, os imperadores Frederico III (em 1451) e Carlos V (em 1526). Com o desaparecimento dos sistemas monárquicos nos dois países, este tipo de casamento deixou, naturalmente, de acontecer, mesmo que grande parte das casas reais continuem a existir.

Contudo, isto não significou o final das alianças matrimoniais luso-germânicas. Mesmo que com muito menos glamour, mas provavelmente com muito mais sentimento, os casamentos entre os cidadãos dos dois países continuam a acontecer com bastante regularidade. Isto apesar das reconhecidas diferenças de mentalidade (ou serão sobretudo clichés?) entre os dois povos. Por exemplo, à partida não se antevê nada fácil conciliar a famosa pontualidade germânica com a lendária descontracção lusitana. E como harmonizar a dita frieza alemã com o coração quente dos portugueses e das portuguesas? E a necessidade teutónica de limpeza, arrumação e ordem com o "deixa andar" e a desorganização que fazem a imagem de marca do nosso país? Como pode funcionar uma relação entre um(a) representante de um povo para quem o acto de beber a bica é quase uma religião e o(a) de outro que bebe o café em copos de cartão enquanto vai a caminho do trabalho? Não sabemos. Também não sabemos quantas destas diferenças são realmente verdadeiras e quantas não passam de clichés com pouca razão de ser. O que sabemos é que, entre os dois povos, o amor acontece com frequência.