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Mudanças
A sociedade do futuro

Uma pessoa que participa numa reunião veste uma t-shirt com a letra "Futuro | Capitalismo (riscado)" no estilo de um sinal de saída da cidade.
Imagem de uma conferência sobre o futuro | Foto (detalhe): © Rosa-Luxemburg-Stiftung

System Change not Climate Change - um ditado que é bem conhecido. Mas o que pode isto significar?

De Asuka Kähler

Como é que a mudança funciona?

Enquanto sociedade, nós estamos em constante evolução. Esta mudança não ocorre de forma linear: por vezes mantém-se apenas marginal ao longo de décadas, ou de séculos, outras vezes assome de uma forma bastante explosiva, seja através do progresso técnico (a industrialização, por exemplo, ou a Internet) ou de revoluções, isto é, de mudanças rápidas e radicais das circunstâncias (em França ou no Haiti, p. ex.). Estas mudanças devem andar de mão dada com mudanças na mente das pessoas: na compreensão moral, na definição de prioridades e nas visões do mundo. Caso contrário, os novos sistemas passarão a reproduzir os mesmos problemas e erros que os anteriores, visto que a base – as pessoas - ainda pensa e age de igual forma.

Tendo em conta a crise climática e todas as suas consequências e facetas, é urgentemente necessário que haja uma nova mudança assim explosiva. E esta não poderá ser de natureza puramente técnica.

"Precisamos, portanto, de uma revolução?"

Aqui pode haver uma divergência nos ânimos, mas deve ficar claro que são precisas mudanças de grande alcance na economia, na política, na sociedade e nos estilos de vida. Vou concentrar-me naquele aspeto que é sobretudo usado como argumento para explicar o porquê de não ser possível haver uma maior proteção climática: a economia.

A economia precisa de crescer, a neutralidade climática é um fardo demasiado grande para a economia, etc., etc. - as razões parecem não ter fim. Numa mentalidade capitalista, que apresenta o crescimento económico como paradigma, estes argumentos são válidos. Mas o capitalismo é incompatível com a justiça climática, por muito verde que este seja.

Virar a economia do avesso

A justiça climática significa também aspirar por uma sociedade em que a identidade não (co-)determine (substancialmente) a posição social. Para a economia, tal implica que haja um alinhamento global da força económica e dos padrões de vida, bem como a eliminação de condições de exploração.
Para que isto aconteça, o princípio do mercado livre não tem de ser necessariamente abolido - o que, muitas vezes, é retratado erradamente como um cenário de terror. Apenas se precisa de alterar a sua moldura, que atualmente é caracterizada por paradigmas capitalistas, crescimento, lucro e pela liberalização.

Como pode a mudança afigurar-se?

De momento, ter uma economia forte é a chave para se obter acesso aos mercados a nível mundial, enquanto os países com economias fracas ficam dependentes destes países industrializados. Esta situação precisa de ser ajustada. Tal seria possível através da alteração do sistema alfandegário: a direção dominante passa por liberalizar todos os mercados, mantendo, assim, as taxas alfandegárias a um nível mínimo. Em alternativa, as taxas alfandegárias poderiam ser definidas pela força económica de um Estado. Os Estados com poder económico mais fraco (medido, por exemplo, pelo PIB/PIB per capita/distribuição de rendimento na sociedade) teriam livre acesso aos mercados dos países mais ricos. Estes, por sua vez, teriam de pagar taxas alfandegárias mais elevadas a fim de ter acesso aos mercados mais fracos - quanto maior for a discrepância no poder económico, mais elevadas serão as taxas alfandegárias que têm de ser pagas. Como consequência, os países do Sul global recuperariam a nível económico. O resultado traria transformações estruturais em todas as relações económicas – tanto a nível nacional como internacional.

Para os Estados ricos, uma economia "degrowth", ou seja, uma economia que não se baseie no crescimento, significa terem de fazer mudanças no trabalho, nos sistemas sociais, etc., de maneira a que a desigualdade local também ali existente não continue a crescer.

A par do acesso ao mercado, devem ser estabelecidas regulamentações globais mais rigorosas e que acarretem consequências económicas maciças no que toca à violação dos direitos humanos, dos direitos dos trabalhadores e à destruição ambiental, especialmente para colocar as grandes corporações internacionais no lugar delas.

É claro que as mudanças que muito urgem na economia acarretam consequências de grande alcance, mas não há outra forma senão a de haver uma mudança na mentalidade das pessoas e uma reviravolta na sociedade, como referido no início. Na próxima semana, e a fechar o Blog, Engage, Act!, a Matilde explicará a razão pela qual nós, ativistas, somos necessários nesta mudança.